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Revista Época/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
imprensa se vê, portanto, dominada pela manipulação
do bolsonarismo. Porque o bolsonarismo é isto, antes
de mais nada: uma estratégia de manipulação por meio
da comunicação, sobretudo da comunicação violenta.
Com Trump aqui nos EUA foi muito semelhante até que
os limites do que era aceitável foram extrapolados. A
angústia que dá observar o Brasil é que talvez esses
limites não existam.
Eis que, por um momento — não sabemos se vai durar
—, tudo muda. De uma hora para outra o presidente
defende as vacinas, avisa que fará acordos de compras,
aparece na TV com seus ministros, todos de máscara.
Vacinas depois da defesa de um tratamento precoce
inexistente. Vacinas depois de uma viagem a Israel em
busca de um medicamento sobre o qual não há, ainda,
dados científicos de qualquer ordem.
Como o presidente perdeu, repentinamente, o controle
absoluto da dita narrativa? Gostem ou não, queiram ou
não, aceitem ou não, devido à ressurreição política de
uma pessoa: Lula.
Bastou que ressurgisse após a decisão do ministro
Fachin, foi suficiente que fizesse um discurso político
articulado de oposição a Bolsonaro, que aparecesse em
algumas pesquisas como o único capaz de enfrentá-lo
em 2022, para que dominasse a narrativa. Não
sabemos se esse domínio será duradouro. Não
sabemos o que haverá de acontecer nas próximas
semanas com o imbróglio judicial que cerca o ex-
presidente e o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro que
o julgou. Mas foi possível vislumbrar o flanco, a
fragilidade da narrativa bolsonarista na habilidosa
retórica de Lula.
Não pretendo defender o ex-presidente, tampouco fazer
deste artigo uma análise sobre o país que precisa
buscar em lideranças passadas a solução para lidar
com a terrível escolha que fez em 2018. Meu único
propósito aqui é deixar claro que o domínio da narrativa
é eterno apenas enquanto dura. Quando nada mais tiver
a oferecer mesmo aos mais árduos defensores do
absurdo, seu mórbido encanto hipnotizante se esvairá.
Até o momento, a única pessoa capaz de fazer ver que
Bolsonaro não tem o controle que pretende convencer
ter foi Lula. Que os pretendentes ao posto mais alto da
República aprendam o que significa o bolsonarismo e
que para combatê-lo não basta que queiram parecer
defensores do povo. É preciso que o sejam, de fato.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas