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sexta-feira, 12 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedesvacinas da Pfizer e da Janssenn (braço farmacêutico da
Johnson & Johnson), Bolsonaro disse que o governo “foi
incansável e exemplo para o mundo na luta contra a
pandemia”. Sabe-se lá o que ele entende por exemplo.
Curiosamente, foi a primeira vez em que o presidente
usou máscara em um evento oficial, após meses
estimulando aglomerações e questionando a eficácia de
uso de equipamentos de proteção individual. No dia
seguinte, seu filho, Eduardo Bolsonaro, apareceu em
um vídeo em que manda a população “enfiar no rabo” a
máscara.
Já o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que
“o sistema de saúde está muito impactado, mas não
colapsou nem vai colapsar”, sem citar as regiões em
que o colapso na saúde já é realidade há tempos. Ele
também anunciou que a previsão para março era de 22
a 25 milhões de doses, muito distantes dos 46 milhões
para o mês, que Pazuello havia previsto no dia 17 de
fevereiro.
SÓ 10%
Entre os erros apontados por Mandetta está a demora
do Brasil em aderir ao Covax Faciity (consórcio ligado à
Organização Mundial de Saúde). Pela enorme
capilaridade do sistema de vacinação nacional, o País
teve a posibilidade de receber do grupo até 50% das
doses necessárias, mas o presidente não quis. “Pegou
muito mal no mundo, porque o Brasil dá escala para a
América do Sul. E só depois entrou pedindo 10%”,
afirmou o ex-ministro. A falta de coordenação nacional
também colocou de pé um consórcio criado por
prefeitos para viabilizar a compra dos imunizantes.
No início da semana, o laboratório brasileiro Precisa
Medicamentos encaminhou pedido à Anvisa para
liberação de uso emergencial da vacina Covaxin,
produzida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech. A
agência negou o recebimento da documentação.
Governadores têm cobrado agilidade do órgão para
aprovação da Sputnik V, que será produzida no Brasil
pela União Química.
A epidemiologista Carla Domingues, que foi a
coordenadora-geral do PNI de 2011 a 2019, afimrou que
o Brasil poderia já ter vacinado pelo menos 50 milhões
de pessoas, não fosse a desorganização do governo
federal. “A população quer ser vacinada, mas o governo
não compra vacina suficiente”, disse. Para ela, o Brasil
tem estrutura para garantir até abril a imunização do
grupo prioritário estendido, que soma 80 milhões de
pessoas e inclui, além de idosos e profissionais de
saúde, professores, agentes de segurança, profissionais
de transporte urbano e pessoas com comorbidades.
“Precisaríamos de 40 milhões de doses ao mês, a partir
de janeitro. Estamos muito longe disso”, afirmou Carla.O desmonte não está só na demora para compra das
vacinas. Nos últimos anos, os recursos para compra de
imunizantes caíram. Em 2019, foram destinados R$ 5,3
bilhões no Orçamento. Em 2020, R$ 4,9 bilhões. “No
ano passado, nenhuma meta da cobertura vacinal das
crianças foi atingida. Não há nenhum movimento do
governo em melhorar o processo de vacinação no País”,
disse a ex-coordenadora do PNI.Para Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações (Sbim), o programa de
imunização vive hoje o momento mais difícil desde sua
criação. “É óbvio que a execução de planejamento do
PNI depende de vacina. Ninguém consegue trabalhar
sem a definição da chegada dos imunizantes.
Planejamento é fundamental”, disse. “Essa incerteza
leva aos cronogramas fracionados de municípios e
estados e cada um interpretando de uma forma sobre
os grupos prioritários. Isso atrapalha a adesão”, afirmou
Isabella.PARTICULARES Sem o PNI no ritmo ideal, fica cada
vez mais distante a possibilidade da entrada das
clínicas particulares na realização de compras com os
fornecedores, que só poderão ocorrer após a
imunização total do grupo prioritário estabelecido pelo