Newsletter Banco Central (2021-03-13)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Isto É Dinheiro/Nacional - Capa
sexta-feira, 12 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes

tiveram até aqui. Bolsonaro só se importa com o que vê
na internet. E como nas redes sociais ele tem visto que
as pessoas querem ser vacinadas e a popularidade vem
caindo, decidiu comprar tudo que tiver disponível. Mas a
vacina não chega a pronta entrega. Precisa de tempo
para produzir. Virá uma pequena parte do que foi
acertado com a Pfizer e depois o Brasil entrará na fila.


Quanto tempo vai demorar para que as vacinas
cheguem numa quantidade suficiente?
Do jeito que o governo fez, o primeiro semestre deste
ano ficou comprometido. E no segundo semestre as
vacinas irão chegar.


E o que significa comprometer um semestre em termos
de economia?
Significa atingir diretamente o PIB nesse período. Com
exceção do agronegócio, os segmentos estão em
queda. Isso vai matar o setor de serviços. Se um
cabeleireiro não tem o cliente, ele quebra. Não se
recupera PIB dessa área. Será praticamente um
semestre perdido para quem depende de serviços,
como eventos, hotelaria, turismo e outras áreas.
Também vai afetar muito a Saúde, já que irá atrasar
ainda mais as cirurgias eletivas que já foram adiadas.
Muitas mamografias, exames de próstata e políticas de
prevenção foram atingidas. Vamos levar uma década
para recompor alguns setores por conta das decisões
equivocadas.


Quais setores?
A saúde pagará preço enorme. Na educação, as
crianças serão ainda mais prejudicadas. A evasão
escolar vai aumentar. O mundo levou 15 anos para se
recuperar da crise a partir da queda da Bolsa de Nova
York, em 1929, e a pandemia tem um impacto muito
mais profundo. O mundo vai ter de se reinventar, do
ponto de vista económico, e o Brasil vai precisar estar
preparado para isso.


Como o senhor enxerga ações da iniciativa privada,


como o movimento Unidos pela Vacina, liderado por
Luiza Helena Trajano (presidente do Conselho de
Administração do Magazine Luiza)?
Quando o governo é ausente, a sociedade civil procura
tapar esses buracos. É louvável, mas representa a
falência do governo. Quando iniciativa privada, prefeitos
e governadores precisam ir atrás de vacinas, isso
significa perda de poder de compra de escala. Comprar
vacina para 210 milhões de pessoas não é o mesmo
preço quando se compra para um município de 10 mil
habitantes, por exemplo. Na primeira onda, houve ações
importantes das empresas, com doações, montagens
de hospitais, máscaras, equipamentos. Mas como não
há um esforço governamental, fica uma situação
complicada. Enquanto a dona Luiza Helena Trajano vai
mobilizando a sociedade para vermos como estão as
salas de vacinas no Brasil, seria muito importante que o
governo fizesse a sua parte. Ela vai acabar entrando em
fadiga e vendo que movimentar essa máquina pública é
muito difícil.

O auxílio-emergencial não deveria já ter voltado?
Sim. É fundamental. O governo calculou mal. Eu avisei
o ministro Paulo Guedes que esse auxílio deveria
vigorar por pelo menos um ano. Liberaram R$ 600 e
não tiveram fôlego para o tempo da doença. O governo
gastou demais no primeiro modelo e depois caiu a zero
a partir de dezembro. Até conseguir reativar, em abril,
serão quatro meses sem qualquer apoio.

A pandemia deverá invadir 2022?
Eu espero que não. Quando a vacinação é muito
devagar com taxa de transmissão tão alta, corremos o
risco de voltar à estaca zero se surgir uma variante
resistente às vacinas disponíveis. Se já tivesse vacina,
poderíamos imunizar tranquilamente entre 2 e 3 milhões
de pessoas ao dia. Em 30 dias, chegaríamos a 90
milhões. E toda a responsabilidade é do governo, que
não quis comprar.

E o pós-pandemia?
Vai durar bastante tempo. Será necessária uma política
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