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Revista Veja/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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A reação do senso comum à retomada da condição de
elegibilidade de Luiz Inácio da Silva por obra de
manobra do ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz
Edson Fachin foi a de que o ex-presidente será
candidato à Presidência e, com isso, em 2022 estará
restabelecido com tintas mais fortes o cenário de
polarização entre extremos de 2018, com o resultado
inevitável da vitória de um dos dois: Lula ou Bolsonaro.
Conclusão rápida, fácil, mas não necessariamente
acertada. Primeiro, porque a situação do ex-presidente
não está definitivamente decidida. Depois, porque,
ainda que se confirme sua condição de ficha-limpa
formal, isso não se estende ao campo moral, fator que é
apenas um entre os vários que representam mais
dificuldades que facilidades ao curso exitoso de uma
candidatura presidencial do petista.
A cena hoje é muito diferente da anterior e
completamente diversa daquela de quase vinte anos
atrás, quando o PT ganhou a eleição cheio de razão
junto ao eleitorado que via o partido com expectativa de
boa governança, da solução para a desigualdade social
e da entrada do país no rol dos adeptos da ética na
política.
Nesse quadro, acrescido do fato de o Brasil ser hoje
muito mais difícil de governar e de o mundo ser muito
menos próspero, seria um grande risco para quem já foi
duas vezes presidente e saiu do cargo glorificado com
80% de aprovação. Isso a ponto de as pessoas se
esquecerem da transformação de um legado bendito
deixado por Fernando Henrique na verdadeira herança
maldita dos governos Dilma Rousseff.
Ainda que não seja candidato, Lula será um ator
importantíssimo na eleição de 22, primeiramente nas
pesquisas, podendo transitar com pose de injustiçado,
“vendendo” feitos de seu governo, nem sempre
verdadeiros, como fez no discurso da quarta-feira 10.
Daí a avaliação inicial sobre ser inevitável a redução do
quadro eleitoral ao embate dos extremos, considerando
nesse conceito menos as diferenças ideológicas e de
procedimentos entre os dois campos e mais o caráter
fanático dos fiéis seguidores do atual e do ex-
presidente.
A questão aí é se o país está condenado a essa
dicotomia e o eleitorado disposto a se render a ela
repetindo a lógica de adesão por exclusão ao adversário
não pelo exame racional de erros e acertos, mas pelo
puro exercício dos chamados antipetismo e
antibolsonarismo.