Newsletter Banco Central (2021-03-13)

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Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
quinta-feira, 11 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Antes da chegada da pandemia, nós, mulheres,
amargávamos o peso das escolhas descomprometidas
com o Brasil e com a população, feitas por Temer e
Bolsonaro. Sabemos que as ditas medidas de
austeridade afetam toda a classe trabalhadora, mas
afetam especialmente as mulheres, amparadas pelas
políticas de Estado para dar conta de suas jornadas
triplas de trabalho. E é nesse contexto que a pandemia
nos encontra, em um momento dramático da vida
nacional em que a nossa luta tem mais e maiores
razões de ser.


Em nenhum outro 8 de março precisamos tanto ir para o
front e batalhar pela vida de nossas mulheres e crianças
como agora. A luta é ainda mais aguerrida: pela vacina
para todos e todas (que nos garantirá a vida e a volta ao
trabalho), pela continuidade do auxílio emergencial, por
políticas públicas que garantam que mulheres que não
pararam de trabalhar tenham suporte do Estado na
proteção de suas crianças, pois essas mulheres que
atuam em serviços essenciais deixam seus filhos com
quem para garantir o sustento de suas famílias?


Sabemos também que, ao passo que o vírus não vê
classe, raça ou gênero, suas consequências, ao
contrário, são absolutamente desiguais. As mulheres
são as mais prejudicadas e vulnerabilizadas. Conforme
a Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe, a taxa de atividade feminina nos postos de
trabalho ficou em 46% em 2020, 6 pontos porcentuais a
menos do que antes da crise do Coronavírus. Também
somos as mais prejudicadas por sermos maioria
naquelas profissões com maior precarização e risco de
destruição de emprego – como o comércio, a hotelaria,
a indústria e o serviço doméstico – e ter escasso acesso
ao crédito para manter ou recuperar seus negócios. Em
outros setores profissionais com predominância
feminina, como a saúde e a educação, os empregos
não estão em perigo, mas as trabalhadoras muitas
vezes contam com preparação e proteção insuficientes
contra o Coronavírus.


No Brasil, a situação é uma das piores do mundo. Com
o fim do auxílio emergencial, uma das conquistas das
oposições, e sem nenhum outro projeto de benefício
social do governo Bolsonaro que reponha as perdas
financeiras, cada vez mais mulheres perdem postos de
emprego. Segundo dados da Pnad Contínua do IBGE,
8,5 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho
no terceiro trimestre de 2020, na comparação com o
mesmo período do ano anterior. Outra pesquisa recente
também divulgada pelo IBGE nos mostra que mães com
filhos de zero a 3 anos têm maior dificuldade de
inserção no mercado de trabalho, sobretudo mulheres
negras. O nível de ocupação de mulheres negras com
crianças nessa faixa etária foi de 49,7% em 2019, entre
as mulheres brancas ficou em 62,6%. A mesma
pesquisa revela que apenas 35,6% de crianças nessa
faixa etária no Brasil estão na creche. Ou seja, a
responsabilidade dos 64,4% restantes recai, na maioria
esmagadora das vezes, sobre as mulheres.

Sabemos que há uma cultura no mercado de trabalho
de priorizar a demissão de mulheres. Demite-se porque
ela engravida, porque cuida do filho, do pai, da mãe, da
avó, do avô. As mulheres dedicam quase o dobro de
horas semanais com afazeres domésticos e cuidados
com outros do que os homens. Em 2019, o trabalho
doméstico não remunerado tomava 11 horas dos
homens, exatamente o mesmo verificado em 2016.
Entre as mulheres, o tempo aumentou de 20,9 horas,
em 2016, para 21,4, em 2019. Além de ter maior
dificuldade de participar do mercado de trabalho, as
mulheres também ingressam com frequência em
funções mais precárias, pois precisam conciliar a
atividade paga com o trabalho sem remuneração, em
casa.

Muito se fala em 2022. Para mim, 2021 nos apresenta
um presente grande e duro demais para olharmos para
o futuro. Nosso desafio é nos aglutinar, a nós que
defendemos a democracia e que refutamos o
negacionismo, para garantir vacina e renda emergencial
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