Banco Central do Brasil
Revista Conjuntura Econômica/Nacional - Capa
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central
de aglomerações -, abriu território não só para o
aumento do contágio como a proliferação de novas
variantes do vírus: a britânica, a sul-africana, e a
identificada em Manaus, chamada de Pl, cujos estudos
preliminares apontam como de maior potencial de
transmissibilidade, devido a uma carga viral 10 vezes
maior em adultos, e capacidade de reinfecção de até
61%. No Brasil, cientistas também já atestaram a
infecção simultânea por duas linhagens diferentes do
novo coronavírus, intensificando o potencial de o país
se transformar no que o cientista Miguel Nicolelis chama
de laboratório a céu aberto para o desenvolvimento de
novas variantes, possivelmente mais contagiosas e
letais, mantendo o país no foco de atenção da
comunidade internacional.
Uma vítima chamada economia
Essa piora do quadro de Covid-19 no Brasil também
preocupa os economistas, que defendem que sem o
aumento da vacinação e a volta segura da circulação de
pessoas o quadro para 2021 é preocupante. Silvia
Matos, coordenadora do Boletim Macro IBRE, lembra
que o pior resultado do PIB em 2020 - de -4,1%, contra
estimativas que, no segundo trimestre do ano passado,
chegaram a uma contração próxima de 10% -,
aconteceu às custas de uma potente injeção fiscal que o
país não poderá repetir este ano. “O número agregado
diz pouca coisa sobre o custo desse resultado. O PIB de
-4,1% acabou ficando próximo da retração registrada
em 2015 (-3,8%), mas é totalmente diferente se
levarmos em conta que seu fôlego é curto, porque para
alcançá-lo geramos outros problemas”, afirma. Entre os
quais, um aumento de 15 pontos percentuais na dívida
bruta do setor público em relação a 2019, resultado
também menor do que o estimado durante o ano, mas
ainda assim alto para o contexto brasileiro, elevando
esse endividamento para 89,3% do PIB. Para Silvia,
ainda que a parada súbita produzida no segundo
trimestre de 2020 demandasse tempestividade no
lançamento das medidas emergenciais para cobrir as
necessidades de pessoas e empresas, restando
margem a planejamentos detalhados, faltou à política
econômica fazer um ajuste fino das medidas a partir da
reação da economia no segundo semestre,
reconhecendo o risco de uma segunda onda e a
necessidade de espaço fiscal para novas medidas de
apoio para além de 2020. “Ao contrário, apostou-se alto
numa recuperação em V. Fazendo uma analogia, o
remédio de política econômica aplicado no Brasil era
indicado para uma doença aguda, quando a pandemia é
uma doença crônica”, ilustra.
Bráulio Borges, pesquisador associado do FGV IBRE,
também atesta a resposta fiscal agressiva do governo
para conter os efeitos da crise ao comparar a diferença
entre o PIB brasileiro projetado em janeiro de 2020 e o
realizado com o de outros 156 países. “Na média, o
nível de frustração entre esses países foi de 8 pontos
percentuais (p.p.), mas há muitas diferenças. Enquanto
China e Coréia do Sul registraram resultados na casa
dos 3 pontos percentuais, na índia essa frustração foi de
15 p.p. - esperava-se um crescimento de 6% e
registrou-se um recuo de 9%”, descreve Borges. Nessa
comparação, o Brasil destacou-se positivamente, com
6,1 pontos percentuais, especialmente se comparado
com a média dos países da América Latina, que chegou
a dois dígitos (12,6%). “Nosso desempenho ruim no
aspecto sanitário atrapalhou mais do que na média do
mundo, mas a resposta de política econômica
compensou”, diz. Borges conta que nem todas as
políticas acionadas pelos países tiveram o mesmo efeito
imediato na atividade. “No meu exercício, não
identifiquei, por exemplo, resposta significativa de
medidas como o afrouxamento quantitativo (QE, na
sigla em inglês) entre os países que as adotaram. Isso
pode significar que a liquidez dada às empresas as
ajudou a não quebrar, mas ainda não a estimular o
investimento, colaborando para o aumento de poupança
observado”, diz. Espera-se nesse caso que, com o
avanço da imunização e o respectivo recuo das
restrições, essa liquidez passe a se refletir na atividade.
“Não à toa em suas projeções mais recentes, o FMI
estima que em 2022 os países desenvolvidos, que
adotaram medidas mais expressivas, praticamente
recuperem a trajetória de crescimento pré-pandemia,
enquanto os emergentes ainda ficarão cerca de 10,8%
abaixo.”