Dragões - 201604

(PepeLegal) #1

REVISTA DRAGÕES abril 2016


46 OsImortais


Como foi o 25 abril no FC Porto? O golpe
militar de 1974 mexeu com o clube logo no
próprio dia da revolução, fazendo com que
a equipa de hóquei em campo cumprisse de
autocarro parte da viagem para a Suíça, onde
a esperavam dois jogos da Taça dos Campeões
Europeus.

TEXTO: PAULO HORTA / MUSEU FC PORTO BY BMG

Equipa de 1973/74 de hóquei em campo: Ribeiro, Gustavo, Raul, Fernandito, Neca e Agostinho
(em baixo); Tino, Daniel, Alberto Fernandes, Marinho, Macedo, Faria e Pereira. Faziam ainda
parte do plantel: Filipe, Júlio, Leite e Alberto Azevedo.


A primeira página da
edição de 25 de abril
de 1974 do jornal
O Porto, a última
editada ainda sob
censura da ditadura.

Dias antes, a 20 de abril, os sócios
reconduziram Américo de Sá
na presidência do FC Porto. A
Direção já vinha a gerir um período
emocionalmente muito particular
dentro da família portista, com
incidência direta sobre a equipa
principal de futebol e medido entre a
dor provocada pela morte de Pavão
(13 de dezembro de 1973) e a euforia
potenciada pela chegada de Cubillas
(janeiro de 1974). A viragem política
e a agitação social verificadas no
país acentuaram, naturalmente, a
delicadeza do momento.
No dia do golpe militar, chegou às
bancas o último número do jornal
"O Porto" (antigo órgão oficial do
clube) editado sob a censura prévia
estabelecida pela ditadura. Na capa,
dominavam a vitória (1-0) do FC Porto
sobre o Barreirense no fim de semana
anterior, em jogo para o Campeonato
Nacional da 1ª Divisão de futebol,
e o ato eleitoral interno. Negava-se,
também, uma mudança na equipa
técnica de futebol, na qual Béla
Guttmann cumpria uma segunda
experiência a azul e branco.


Naturalmente, a profunda alteração
de paradigma em Portugal só viria
a refletir-se (um pouco) na edição
seguinte do jornal, publicada a 2
de maio. Embalados pela força da
avalancha de liberdade, os dirigentes
do clube decidiram, também nesse
dia, redigir uma posição oficial
definitiva sobre os acontecimentos
históricos no país. “A Direcção do FC
Porto, interpretando o sentir da sua
massa associativa, regozija-se com
o momento de alegria que o País
atravessa e comunga na esperança
de um Portugal melhor”, foi a posição
tomada e lavrada em ata.
Sem considerações de qualquer
outro calibre, ou que pudessem ferir
os estatutos do clube (explicitamente
apolíticos), o FC Porto saudou assim
a entrada de Portugal numa nova
e ansiada era. Curiosamente, a
última Direção eleita ainda sob o
regime da ditadura foi a primeira a
ser empossada (junho de 1974) no
advento da democracia, que levantou
o manto cinzento do centralismo e
da proteção velada aos emblemas da
capital.

Onde estava


no 25 de


abril?

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