Melhor - Gestão de Pessoas - Edição 378 (2019-06)

(Antfer) #1
REVISTA MELHOR 17

H


á mais coisas entre as organizações e a lite-
ratura do que pode imaginar nossa vã filo-
sofia. (Mal) parafraseando a célebre frase de
Hamlet, esse parece ser um dos caminhos
para preparar as empresas para enfrentar os desafios
de um futuro próximo. Para Dante Gallian, autor de A
literatura como remédio: os clássicos e a saúde da alma
(editora Martin Claret), é por meio da leitura de gran-
des clássicos que as principais lideranças corporativas
(e aqui está o RH também) ampliam o conceito de hu-
manização e a ideia daquilo que é próprio do humano.
“Cada vez mais o ambiente corporativo exige pessoas
inovadoras, criativas e proativas – portanto, mais hu-
manas e humanizadas. E como nos humanizamos?
Entrando em contato com aquilo que é próprio do hu-
mano. E nada melhor do que a literatura clássica para
nos mostrar essa dimensão”, diz Gallian, que defende
a Responsabilidade Humanística das empresas (veja
boxe na pág. 18).
Professor e diretor do Centro de História e Filosofia
das Ciências da Saúde da Escola Paulista de Medicina
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde
coordena o Grupo de Pesquisa Humanidades, Nar-
rativas e Humanização em Saúde e o Laboratório de
Leitura (LabLei), projeto que recebeu o prêmio Viva
Leitura, concedido pelo Ministério da Cultura e pela
Organização dos Estados Ibero-Americanos, Gallian,
trata desse e de outros assuntos nesta entrevista.

Vivemos em um ambiente assolado
pela revolução tecnológica. E
já se fala muito no mundo pós-
digital. Como é esse ambiente que
está além do tsunami high tech?
A tecnologia é uma coisa boa. Ela está presente na
história da humanidade desde a Idade da Pedra, quan-
do observamos, por exemplo, as pontas de lança e os
machados que os chamados homens das cavernas uti-
lizavam para caçar e se alimentar. O problema, hoje, é
quanto essa tecnologia assumiu em termos de propor-
ção. Se num primeiro momento a tecnologia era algo
da qual o homem se servia primeiro para sobreviver e,
posteriormente, para lhe proporcionar mais qualidade
de vida, na nossa era digital, quase pós-digital, o grande
perigo é nos tornarmos escravos dela – ou seja, a tecno-

logia instrumentalizando o homem. A tecnologia é algo
absolutamente necessário, que faz parte da experiência
humana. O problema não está nela; o problema está no
papel e na dimensão que ela assume na vida humana.

Em sua opinião, vivemos em um
mundo em desumanização?
Sem dúvida. Vivemos num processo de desumani-
zação cada vez mais radical, na medida em que vive-
mos em função daquilo que criamos, e não em função
do que somos. Para mim, o que ocorreu nos últimos
séculos é que fomos criando coisas cada vez mais sofis-
ticadas e poderosas, mas nos tornamos cada vez mais
reféns dessas coisas. O caso mais significativo disso é a
Inteligência Artificial, quando passamos a pensar que
devemos ser como as coisas que criamos. É nesse sen-
tido que observo a transformação do ser humano em
máquina – e, mais grave ainda, tornando-se apêndice
da máquina. Quando as pautas, as dinâmicas e a sis-
temática da vida estão definidas por aquilo que está
na internet, no smartphone ou nas redes sociais, pode-
mos dizer que nos tornamos apêndices da tecnologia.
E é nesse sentido que a gente se desumaniza.

No Co NArh


ante Gallian estará presente na edi-
ção deste ano do Congresso Na-
cional sobre Gestão de Pessoas
(CONARH), um dos maiores e mais impor-
tantes eventos do gênero no mundo. Entre
outras questões, o professor vai responder
sobre como desenvolver o cuidado e res-
ponsabilidade pelo bem mais valioso que as
empresas possuem – as pessoas – na palestra
Responsabilidade humanística: um novo ca-
minho para o futuro. O CONARH é promo-
vido pela a ABRH-Brasil, com copromoção
da ABRH-SP. Para ter mais informações so-
bre a palestra de Gallian e as demais ativida-
des e temas do congresso, acesse:
http://www.conarh.org.br

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