REVISTA MELHOR 19
em aspectos humanísticos que envolvam a filosofia, a
antropologia, a literatura e assim por diante.
Em seu trabalho, o senhor promove,
entre outras ações, laboratórios de
leitura para facilitar esse processo
de humanização. Como fazer essa
ponte entre os grandes clássicos, e
as boas obras da atualidade, para a
vida corporativa?
Os clássicos não são clássicos por acaso. Por que con-
tinuamos lendo a Odisseia, de Homero, escrita no século
VIII a.C.? Ou por que William Shakespeare, Miguel de
Cervantes, Machado de Assis e muitos outros continuam
vendendo, sendo reeditados, traduzidos e principalmente
lidos? Isso significa que, independentemente de sua ori-
gem, cultura, língua ou tempo histórico, esses autores
conseguiram, de alguma maneira, traduzir a experiência
humana de forma universal e perene. É por isso que con-
tinuam sendo lidos. É claro que grandes obras continuam
sendo escritas – e vão continuar sendo. Mas o fator que
determina o clássico é sua perenidade. Ao trabalhar com
clássicos, tocamos nas questões essenciais da existência
humana. E ao tocar nessas questões, levamos humani-
zação para o ambiente corporativo. É nesse aspecto que
podemos dizer que o trabalho com essas obras amplia o
conceito de humanização e a ideia daquilo que é próprio
do humano, que é exatamente o que buscamos. Cada vez
mais o ambiente corporativo exige pessoas inovadoras,
criativas e proativas – portanto, mais humanas e huma-
nizadas. E como nos humanizamos? Entrando em conta-
to com aquilo que é próprio do humano. E nada melhor
do que a literatura clássica para nos mostrar essa dimen-
são, criando uma espécie de antídoto para esse “homem-
máquina”, esse “homem-tecnologia”, esse “homem-rede
social” em que nos transformamos. Por isso acho que
voltar aos clássicos e trabalhá-los acaba se tornando um
recurso humanizador extremamente eficaz e importante
no ambiente corporativo.
Falando em Shakespeare há, em
Hamlet, uma frase significativa:
“O estar pronto é tudo!”. Como
fazer com que as lideranças, em
especial as de RH, estejam
prontas para trilhar um novo
caminho em meio a tantas
incertezas que batem à porta das
empresas (e fora delas também)?
Temos de estar prontos para tudo. E o que nos pre-
para para esse tudo, para esse mundo incerto, cheio de
surpresas e em constante transformação, como o que
vivemos hoje? É ir ao encontro daquilo que é realmen-
te próprio do humano. Acabamos criando armadilhas
para nós mesmos, com a hipervalorização da crença
na razão e no planejamento. Obviamente, não quero
dizer que não tenhamos de pensar ou planejar. Mas o
que percebo é que apenas com o instrumento da razão,
do intelecto e do planejamento é impossível lidar com a
complexidade do mundo. E, aproveitando a menção a
Hamlet, cito outro trecho dessa mesma peça de Shakes-
peare que nos coloca diante de uma grande questão:
“Nosso tempo está desnorteado. Maldita sina que me
fez nascer um dia para consertá-lo”. Como consertar
essa realidade desconsertada? Apenas com a razão ou
com o intelecto? Não. Tem de haver muita sensibili-
dade e todo um trabalho do ponto de vista dos afetos,
sentimentos, criatividade, intuição e, principalmente,
Acredito que
essa liderança
de recursos
humanos
também
será a mais
importante de
uma empresa