RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

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depois pelos jornais. Melhor ser brasileiro vivo do que herói com
medo.

(Ouve - se um tropel de cavalos e em seguida relinchos e um barulho
de bolas de gude jogadas ao chão.)

POPULARES (in off/ Continuam bradando):
Anistia! Anistia! Diretas, já!

(Fugindo do tumulto, uma mulher jovem, simples, suada e levemente
descabelada, sobriamente vestida, com salto do sapato quebrado,
joga-se na porta do Bazar pedindo socorro, resfolegando, com os
olhos esbugalhados)

CENA3 ∙ INTERNA ∙ BAZAR ∙ INÍCIO DA NOITE

Luzes focadas no balcão e nas mesas - ambiente de penumbra no
interior da loja.

MURILO AHMED (Abre a porta para a mulher entrar e olha para
ela, solícito. Aponta uma cadeira junto ao balcão, ao lado de
Gerard Durand.):
Acalme-se. O tumulto vai passar e a senhora pode sair em paz. Se
quiser, pode sentar. (Pausa) Quer que eu ajeite seu sapato?

LINDA (Corre com o olhar desconfiado ao redor, vê Gerard Durand
e logo se volta para Murilo Ahmed):
Sim. (Entrega o sapato a Murilo Ahmed, explicando-se) Eu estava
procurando trabalho numa agência de emprego. Esperei até agora
e nada. Quando saí, vi gente correndo e corri também. Tá difícil!

GERARD DURAND (Lê no balcão um panfleto jogado pelos
manifestantes indiferente à turba e à visitante. De repente, volta o
olhar para Linda examinando-a por baixo dos óculos):
Ah! Procurando trabalho. Tanto melhor. Pensei que era mais uma
dessas baderneiras que, em vez de ficar em casa cuidando do
marido, anda pela rua distribuindo panfleto e fazendo arruaça.
(Pausa) Qual sua profissão, senhora?

LINDA (Volta-se para Gerard Durand com olhar desconfiado.
Depois, olha para Murilo Ahmed, que demonstra aprovação
balançando o queixo. Ela responde olhando para Murilo Ahmed):
Já trabalhei em hotel.
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