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Olá, como vai, desaparecido? O que fez lá na Argentina?HIRSZMAN (Com ar de pouco caso): Procurando desaparecidos...
Principalmente livros.MURILO AHMED: Alguma novidade?HIRSZMAN : A única novidade na Argentina são as Mães da Praça
de Maio. Eu trouxe filmes bons e óperas... e alguns livrinhos pra
variar.MURILO AHMED : Daqueles que não se encontram por aqui? Em
espanhol?HIRSZMAN: Sim. Desta vez, trouxe também de sindicalismo. Minha
mala está cheia. Errico Malatesta pra começar. Tá na moda agora.
Soube das greves e que a história de Manoel Fiel Filho, aquele
sindicalista que foi morto, está sendo escrita por Carlos Alberto
Luppi. Lembra dele? Tá sempre investigando os podres desse
governo corrupto.MURILO AHMED (Reservado e discreto, baixando a voz):
É aquele jornalista que denunciou que o governo Médici escondeu
a epidemia de meningite. (Pausa) Isso aí vai dar o que falar!HIRSZMAN: O Brasil está de cabeça pra baixo. Dizem que tem uns
sindicalistas fazendo greve no ABC. Uns metalúrgicos barbudos.
Estão falando muito deles... lá na Argentina.MURILO AHMED: Todo dia tem greve. Eles estão prendendo muita
gente ainda. Empastelando jornais e batendo em manifestantes.HIRSZMAN (Olhando para a prateleira de LPs nacionais usados):
Aqui e lá. (Segue mexendo nos discos) Olhe só que raridade, João
Bosco e Aldir Blanc, um disco premiado. É de 76. Já estamos em
79... (Aponta para a foto de Blanc) e esse careca continua bom na
música e no Pasquim.MURILO AHMED: Pode levar pra ouvir. Tem uma música dele
fazendo o maior sucesso, mas aqui não vendo novos. Deixe
tudo aí na mesa que eu vou catalogar depois. Agora está calmo.
Aproveitei pra arrumar as prateleiras. Daqui a pouco isso aqui
enche de estudantes. Agora tem um cursinho aí em cima.