RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

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mudanças, promovendo-as nos modos de servir à clientela, sem se
envolver com os acontecimentos externos, pois demonstra medo das
conseqüências de ações extremistas de intolerância política e de
censura e protege seu negócio de seus riscos.

GÉRARD DURAND é um senhor de meia idade, meio curvado,
aparentando 60 a 65 anos, branco, elegante, bem perfumado,
sempre usando terno preto e camisa branca com gravata borboleta
e sapatos de couro preto bem escovados. Feições asiáticas, cabelos
tingidos, curtos, barba feita, sem bigode, um pouco barrigudo e altura
mediana, muito asseado. Saúde excelente, bem-disposto, dinâmico e
observador, formal, voz forte, firme e autoritária; quando aborrecido
ou contrariado, fala palavrões. Econômico, quase avaro, comunicativo,
poliglota, domina bem o português (com sotaque), inglês, espanhol e
francês, autodidata, estudioso de gastronomia. De origem francesa,
estudou em internato, mas teve seus estudos interrompidos pela
guerra. Seu pai, asiático naturalizado francês, e a mãe, francesa, de
origem judaica, eram proprietários de um pequeno restaurante em
Paris, mas desapareceram depois de serem levados para o campo
de deportação de Drancy. Escapou do regime nazista com ajuda
de padres que o esconderam em porões do internato, junto com
outros internos, até a convocação pelas Forças Francesas Livres de
Charles de Goulle para lutar contra os alemães na Segunda Guerra.
Imigrou para o Brasil ainda jovem para recomeçar a vida, tornando-se
ajudante de cozinha e depois gerente de restaurante, onde fez amigos
importantes. Naturalizou-se brasileiro. Intolerante com vozes altas,
principalmente de pessoas discutindo política. Racista, considera
favelados e nordestinos ignorant (palavra que sempre fala em francês
somente para designar desafetos). É preconceituoso até consigo
mesmo por não ser francês legítimo. Odeia mais os comunistas que
os nazistas. Admira Charles de Goulle e o Regime Militar do Brasil
instalado com o AI-5. Prefere ambiente de pessoas ricas, dominando
seus costumes e gostos, exibindo seus dons poliglotas e falando de
suas viagens anuais à França e da alta gastronomia francesa, embora
sobreviva com parcas economias e assalariado. Negocia no paralelo
pelo câmbio diário. Excelente anfitrião. Amante de música erudita
e bons atores e cantores franceses e norteamericanos, tornou-se
frequentador assíduo do Bazar por causa dos discos em vinil e filmes,
clássicos e antigos, baratos. Sua preferência por ouvir Milord com
Edith Piaf fez com que o dono do Bazar o apelidasse de Milord.
Alcoviteiro, faz-se de intermediário para encontros de garçonetes
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