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Todo mundo ri e Severiana abaixa a cabeça envergonhada.
HELENA: Que milagre é esse você aqui?
SEVERIANA: Meu pai dormiu cedo e minha mãe saiu. Eu aproveitei
e...
JÃO (Rindo): Deu no pé com o melhor bolo da vila. Sorte a nossa!
EDIELSON: Você devia era fazer bolo pra vender. É muito bom!
Todo mundo vai querer.
JÃO: Isso! Todo mundo ajuda com uma panela e a prima faz um
restaurante de bolos.
HELENA; Não existe restaurante de bolos. É doceria, Jão.
SEVERIANA: E não é panela, é assadeira, Jão.
JÃO(Rindo): Ela faz uma doceria, então. Dona Detinha diz sempre
que, se todo mundo se juntar, as coisas acontecem. Todo mundo
pode dar assadeira e essas coisas de fazer bolo.
EDIELSON: Boa ideia, meu filho. Aqui mesmo tem uma assadeira
velha. Pode levar minha afilhada.
Eles continuam a tomar café e a saborear o bolo de Severiana.
CENA 25 ∙ BEIRA DA PRAIA ∙ EXT ∙ DIA
As ondas desfazem-se sobre os pés de Severiana. Espumas
branquinhas vão e vêm.
O céu está sem nuvem, e os raios de sol dão uma cor especial ao
mar azul. O horizonte apresenta-se como um convite.
Ouve-se ao longe as cantigas de trabalho das marisqueiras.
As ondas continuam a cobrir os pés da menina, mas agora, quando
a espuma se desfaz, os pés de Severiana são maiores. Ela está 14
anos. Ela está grávida e olhando para o horizonte. Sua mãe a chama
pro trabalho.
ANA (OFF SCREEN): Severianana, ô Severianana! Tá com a vida
ganha? Venha trabalhar.