RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

92


JOCA BALEIRO: Estou ansioso desde ontem quando vi o cartaz.
Sei as falas de có e salteado.

PROJECIONISTA: Vou atrasar um minutinho para iniciar o filme.
Assim dá tempo de o senhor chegar lá dentro.

Joca Baleiro sorri e acena com a cabeça olhando para o projecionista.

CENA 3 ∙ INT. ∙ SALA DE PROJEÇÃO ∙ NOITE


Joca Baleiro está em pé na parte mais alta da escada. Todos os
assentos estão ocupados. O filme já começou. Joca Baleiro olha para
a tela e suspira com os olhos fechados enquanto apoia suas mãos no
baleiro que carrega nos ombros.

CENA 4 ∙ INT. ∙ SALA DE PROJEÇÃO ∙ NOITE


O filme está quase no fim. A cena que está na tela é a do coelho indo
conversar com Deusimar. Joca Baleiro arregala os olhos e, em pé, na
escada, começa a encenar o monólogo junto com o ator.

JOCA BALEIRO: A gente não vai deixar tu morrer, Deusimar. A
gente não vai deixar tu morrer, tá ouvindo? Tu tem que fazer
alguma coisa. Tu tem que tomar alguma atitude. Passou a vida
inteira esperando, esperando. Tu tava esperando que alguém te
levasse embora daqui.

As pessoas que estão assistindo olham para Joca Baleiro com a testa
franzida e olhos apertados.

PESSOA 1: Ô, tio, fica quieto aê.

Joca Baleiro está de olhos fechados encenando o monólogo que está
na tela e não ouve a reclamação.

PESSOA 2: Seu Joca, presta atenção no filme.

As pessoas estão reclamando entre si sobre Joca Baleiro. Joca
Baleiro permanece de olhos fechados e se inclina para as poltronas.

JOCA BALEIRO: Mas foi tu, tu que nunca teve coragem de sair
daqui. Tu nunca deu um passo pra fora daqui. Era só tu abrir o
portão e... Mas tu não, tu fica aqui, se maldizendo da vida, se
maldizendo e botando a culpa em tudo e em todo mundo... A vida
Free download pdf