Jorge Nuno Pinto da Costa
A heroicidade sempre foi uma marca
distintiva da história do FC Porto. Foi com
heróis que derrotámos o Arsenal em 1948,
que vencemos o campeonato Calabote
em 1959, que voltámos a ser campeões 19
anos depois em 1978, que conquistámos
sete troféus internacionais e muitos outros
títulos de competições em que estávamos
longe de ser apontados como favoritos.
Nos últimos dias, por um motivo muito
triste e por outro muito feliz, voltámos a
ser confrontados com esta característica
do clube de que tanto nos orgulhamos.
A 26 de fevereiro, despedimo-nos
do nosso querido Alfredo Quintana, um
homem e atleta extraordinário, que partiu
na flor da vida aos 32 anos de idade.
O Quintana foi um verdadeiro herói do
FC Porto. Vindo de Cuba em 2011, não
demorou a adotar a cidade do Porto
e o clube que o recebeu e que nunca
quis deixar, apesar das propostas muito
vantajosas que recebeu, como pátrias do
coração. A atitude dedicada e competente
com que serviu o FC Porto até ao último
dia da sua curta vida é um dos seus
mais importantes legados desportivos
e terá de servir como inspiração para
todos os que por cá continuarão a
construir uma história que é eterna.
A 9 de março, em Turim, outros heróis
construíram mais uma página notável no
nosso percurso europeu. A eliminação da
Juventus, uma equipa nove vezes campeã
de Itália nos últimos nove anos e candidata
assumida à vitória na Liga dos Campeões,
só foi possível porque a nossa equipa
técnica e os nossos jogadores souberam
transportar para o relvado o verdadeiro
ADN do FC Porto. Nas circunstâncias mais
adversas, mesmo a jogar em inferioridade
numérica durante quase 80 minutos,
as capacidades de luta, de superação e
de transformar fraquezas aparentes em
forças reais voltaram a dar frutos, como
foi reconhecido um pouco por toda a
HERÓIS NO CÉU E NA TERRA
Europa, menos em algumas redações mais
aziadas da comunicação social de Lisboa.
Ouvir o que os comentadores ingleses
ou o selecionador da Bélgica disseram
sobre o nosso clube devia fazer corar
de vergonha os Ruis Santos e Delgados
desta vida, o que só não é possível porque
vergonha é coisa que eles não têm.
Estes dois acontecimentos, um tão
trágico e outro tão brilhante, voltaram a
confrontar-nos com o essencial da nossa
existência. Tão depressa estamos cá como
não estamos, tão depressa podemos estar
em baixo como em cima. Quase tudo é
breve e provisório. Infinito, só o FC Porto.