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Verões na restinga de Grussaí
(Summers in the Grussaí’s restinga)
A casa de praia de meu avô materno em Grussaí ficava no então início de
uma larga avenida hoje batizada oficialmente de Liberdade, mas então chamada
de restinga simplesmente. Entre a casa de meu avô e a do seu vizinho, capitão
Fernando Lopes corria um fio d’água encorpado que vinha do rio Paraíba do Sul e
desaguava na lagoa.
Ali, num domingo, da ponte sobre o riachinho, avistei um pequeno jacaré. Avisei
meu pai que veio e o matou. Foi comido no almoço. Pelo riacho, meu avô, calças cáqui
arregaçadas até os joelhos, munido de afiado facão, matava as gordas e distraídas
tainhas que vinham do rio. Hoje, esse caminho d’água, que era parte da restinga, foi
criminosamente coberto pela ganância dos sem praia.
A restinga era um pedaço do paraíso no meio do areal. Manhã cedinho,
após o prato de coalhada preparada por minha avó, íamos tomar banho de mar,
ver de perto o marulho que nos embalara o sono. Seguíamos pela rua de areia,
chamada rua do lobisomem, por entre gravatás, carrapichos e cordões de salsa de
praia que, às vezes, cortavam nossa correria com um tombo. À medida que o sol
escalava o céu, a areia ia esquentando mais do que devia e voltávamos para casa
em pequenas corridas, com paradas estratégicas para refrescar os pés. A manhã
passara rápido entre a coleta de tatuís, tentativas frustradas de pegar os guruçás,
que eram mais rápidos que o vento tépido, e mergulhos naquela imensidão verde
que se espraiava em espumas com fímbrias amarronzadas de iodo. Era realmente
o paraíso.
Carlos Augusto Sá
Repouso
Repose
Foto: Rudá Sanchez