Cartas à restinga 65
Para meu irmão Cláudio, companheiro fiel nos verões de Grussaí
Aquilo que a memória ama, nela permanece para sempre.
(Adélia Prado)
A MENINA E A RESTINGA
Para a menina, escrever sobre a Restinga de Grussaí é evocar os veraneios da meninice
em um espaço em que areia, plantas e bichos voltam atrelados às pessoas, a episódios triviais,
cenas fugidias que teimam em povoar as lembranças.
É pensar na Mãe que tinha um amor incondicional pelo lugar. É reviver um tempo de luz
fraca e comunicação difícil com a cidade. A distração se dava no usufruir da convivência em família
e do que o local oferecia de melhor - o vento Nordeste, a luz solar, os cheiros, o querer aproveitar
todos os momentos.
Reviver a Restinga da infância é resgatar o que o ambiente físico de então proporcionava
- liberdade e segurança absoluta para aproveitar as poucas semanas disponíveis para nós na casa
do avô materno. Situada ao final da Av. Liberdade, a propriedade tinha ares de fazenda, razão pela
qual a menina lembra-se mais dos fatos passados na casa e seu entorno do que do das idas ao
mar e às localidades próximas.
A casa fechada durante o ano demandava uma verdadeira mudança. Os malões eram
arrumados com antecedência e cheiravam à naftalina (coisas da Mãe). A menina não se esquece
da emoção ao passar na reta do Cajueiro, pois já ali o vento trazia os aromas de Grussaí -
salsaparrilha? ...maresia?...pitangas? A memória olfativa se estende à casa aberta às vésperas.
Chão de madeira velha que Caboclo Rangel lavava com água fervente (dizia que era para matar
lacraias e outros bichinhos indesejáveis). Estopa em chamas para dizimar marimbondos, facão na
cintura para cobras eventuais. Ah...e o cheiro tão característico dos cavalos no velho estábulo.