VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - EDIÇÃO DE JUNHO - Nº 11

(MARINA MARINO) #1
Um pequeno trecho da obra

“Torto Arado”, de Itamar Vieira


Júnior:


“(...) O medo atravessou o

tempoe fezparte da nossa história


desde sempre. Era omedo de quem


foiarrancado doseu chão.Medo de


não resistir à travessia por mar e


terra. Medo dos castigos, dos


trabalhos, do sol escaldante, dos


espíritos daquela gente. Medo de


andar,medoedesagradar, medode


existir. Medo de que não gostassem


de você, do que fazia, que não


gostassem do seu cheiro, do seu


cabelo, de sua cor. Que não


gostassem dos seus filhos, das suas


cantigas,danossairmandade.Aonde


quer que fôssemos, encontrávamos


um parente, nunca estávamos sós.


Quando não éramos parentes, nos


fazíamos parentes. Foi a nossa


valência poder se adaptar, poder


construir essa irmandade, mesmo


sendo alvos da vigilância dos que


queriam nos enfraquecer. Por isso


espalhavam o medo” (paginas


178 / 179 )


ItamarVieiraJúniornasceu
em Salvador, Bahia, em 1979. É
geógrafo e doutor em estudos
étnicos e africanos pela UFBA.
Publicouoslivros decontosDias
eAoraçãodocarrasco(finalista
doPrêmioJabuti),alémdeoutros
textos ficcionais em diversas
publicações nacionais e
internacionais.ComTortoArado,
venceu os prêmios LeYa 2018 ,
JabutieOceanos.
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