LAURA REGUEIRO
70 ANOS
PROPRIEDADE
Quinta da Casa
Amarela
PRODUÇÃO
São 12 hectares de
vinhas velhas que dão
para vender 80 mil
garrafas por ano.
MOTE
"É importante estar
atenta ao passado,
mas sem parar no
tempo. Para mim,
o trabalho é um gozo."
DA SALA DE AULA PARA A VINHA
Há 30 anos que a ex-professora se dedica, por completo, à gestão
da Quinta da Casa Amarela. Mas continua a recorrer à pedagogia
O
s tapetes de Arraiolos da sala de estar
estão para arranjar e, por isso, Laura
pede desculpa. E a refrescante limo-
nada há de acompanhar a "catrefada"
de episódios que conta com muita ênfase, tal e
qual faria nas aulas de História nos liceus onde
ensinou, imagina-se de imediato. É desta forma
que também capta a atenção dos cerca de 3 000
turistas que vão à Quinta da Casa Amarela para
conhecer a vinha, fazer uma prova ou uma re-
feição (em breve, terão alojamento).
Até 1978 , a coisa era diferente. Laura vinha ao
Douro todos os fins de semana e regressava com
o carro atulhado de mantimentos, num percurso
que tardava duas horas e meia. Mas durante a
semana continuava no Porto, a ensinar. Só mais
tarde se transferiu para a Régua, onde dava aulas
à noite para poder ajudar na quinta, que nessa
altura apenas vendia uvas a granel. Em 2000,
consciencializou-se de que não estava a fazer
nem uma coisa nem outra - talvez porque o filho
lhe tenha dito que andava a brincar aos vinhos
- e pediu a reforma, aos 50 anos. Foi então que
decidiu estruturar o negócio, criando um porte-
fólio de vinho DOC e diversificando nos vinhos
do Porto. "O projeto continua a ser familiar, aliás,
este ano lançámos uma colheita com o meu nome
e outra com o nome do meu pai. O meu marido
está mais dedicado ao enoturismo e o meu filho
é comercial." Sabe que não quer tornar a quinta
uma grande exploração - se crescesse muito
mais, teria de fazer outra reestruturação e Laura
está convicta de que o seu caminho não é por aí.
Hoje, assume que não sabia nada disto quando
começou, que não teve formação enológica. Va-
leu-se do arregaçar de mangas e das visitas que
fez a outras regiões para se inspirar e aprender.
Claro que o saber empírico de anos de experiên-
cia e vivência também contou. "O importante é o
acolhimento, fazer com que os visitantes sintam
o Douro e o seu património. Uma garrafa de
vinho tem por trás muita cultura. Gosto sem-
pre da pedagogia." E gosta também de calçar as
botas e de andar a calcorrear as vinhas, a mexer
nas folhas, a ver se já têm cacho. Quando está lá
no alto, no sossego do campo, abre os braços à
la Titanic, e anuncia: "Este é o meu mundo!" Já
lhe perguntaram porque não abranda ou passa
a pasta a outro, mas Laura nem quer ouvir falar
nisso, tal a paixão que sente por este trabalho.
Para remate de conversa, e enquanto galga
as suas vinhas, faz questão de deixar um recado:
"Sempre que sou convocada para falar sobre as
mulheres nesta área, explico que não foi só aqui
que passámos a ter um papel diferente. Trata-se
de uma evolução natural. Aliás, devo dizer que
nunca senti que o meu trabalho fosse posto em
causa pelo facto de ser mulher." IIJ [email protected]
27 JUNHO 2019 VISÃO 45