o 12 volume, me comprometi a contar
a verdade. Segundo, porque eu sei que
houve uma boa parte do eleitorado
do centro e da direita que me apoiou
nas presidenciais de 1986 e que não
percebeu o meu pensamento e a
minha evolução. E alguns ficaram ir-
ritados comigo, ao ponto de cortarem
relações - até primos direitos meus ...
Ora, eu não sou insensível ao que
as pessoas pensam, e quem está na
política deve prestar contas.
Num dado momento do seu livro,
refere um elogio de Marques Men-
des, então líder do PSD, a uma boa
negociação, na União Europeia,
conduzida pelo governo de Sócra-
tes, quando o senhor era ministro
dos Negócios Estrangeiros. E diz
que, nesse tempo, "o PSD não via
tudo a preto e branco e sabia dis-
tinguir entre o certo e o errado".
Já não é assim? ...
Já não ... A partir da liderança do dr.
Passos Coelho - e talvez em função
das condições dificílimas em que
ele teve de governar -, deixou de
ser assim. Adotou um estilo a preto
e branco. O adversário nunca pode
fazer nada bem ...
Essa mentalidade é um exclusivo
do PSD?
Claro que não. Está a generalizar-
-se. Terá começado com o PSD, mas
o CDS também adotou essa linha,
contra toda a sua tradição de parti-
do moderado. E o Bloco e o PCP, à
sua maneira, embora tenham tido o
cuidado, durante esta legislatura, de
não esticar a corda ao ponto de ela se
romper, também estão muito a preto
e branco. Se o PS concorda com eles,
é de esquerda. Mas se não concorda, é
porque está feito com o PSD e o CDS!
O PS está imune a essa mentalida-
de sectária?
O PS consegue resistir melhor, até
porque lhe convém.
A política radicalizou-se bastante,
então. Porque é que isto aconteceu?
Tem que ver com o l!sbatimento
das diferenças ideológicas, que
tínhamos nos primeiros anos de
democracia. Aos poucos, o País foi
encontrando um modelo de convi-
vê ncia política bastante moderado,
nas suas opções fundamentais. Este
consenso sobre o tipo de regime,
com as questões ideológicas quase
desaparecidas, faz com que o radi-
calismo verbal seja um veículo para
marcar a diferença e distinguir
os partidos.
48 VISÃO 27 JUNHO 2019
Velhos tempos Assinando um
Acordo Constitucional, em 1975,
perante Costa Gomes (PR) e Pinheiro
de Azevedo (PM). E na campanha
de 1986, com a família Cavaco Silva
e a apoiante Agustina Bessa-Luís.
E em estúdio, para o debate com
Mário Soares
Mas isso não tem riscos para a de-
mocracia, ou para a sua imagem?
É evidente que tem. Mas gostava de
dizer - e é a primeira vez que o farei ...
- que, apesar de tudo, o radicalismo
verbal do CDS e o do Bloco, embora
excessivos, não implicaram, até hoje,
nem da parte de um nem da parte
de outro, qualquer quebra das regras
democráticas (o comportamento
democrático tem sido impecável),
e, portanto, tem, pelo menos, uma
vantagem: dificulta o aparecimento
de partidos populistas.
Mas o PS tem ocupado uma
posição muito central no espetro
partidário português ...
Muito central! Só não lhes chamo
centristas para não os ofender ...
E isso pode fazer com que o espaço
de afirmação dos partidos à sua di-
reita esteja limitado. Não concorda?
Até certo ponto, temos de reconhecer
que a posição do PSD e a do CDS,
e, em particular, a do dr. Rui Rio, é
bastante difícil, perante um partido
central e moderado, como o PS, que
consegue o milagre político de, ao
mesmo tempo, contentar Bruxelas
e os seus parceiros à esquerda com
medidas de caráter social. Isso revela
não só habilidade mas inteligência
política. Mas não creio que o PSD
estivesse melhor se fosse liderado por
alguém da linha de Passos Coelho,
como, por exemplo, Luís Montenegro.
Até poderia estar pior.
Então, o que pode fazer o PSD com
esta liderança. .. centrista?
Não posso usar essa palavra ... ficou
contaminada ... [Risos.] Mas é possível
dar a volta a isto, não abandonando,
como o PS abandonou, o discurso
político sobre questões de soberania:
Política Externa, Defesa Nacional,
Segurança, Justiça ... Eu até tenho
simpatia pessoal pelo dr. Augusto