~ IMOBILIÁRIO I OPINIÃO
Cidades inteligentes
e novas fonnas de imobiliário
POR HUGO SANTOS FERREIRA I VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO
DA ASS. PORTUGUESA DE PROMOTORES E INVESTIDORES IMOBILIÁRIOS
uinze por cento do PIB é o valor que o inves-
timento imobiliário hoje representa em Por-
tugal, o que tem ;:Uudado a construir cidades
mais inteligentes, onde o meio ambiente e,
acima de tudo, o "ambiente das pessoas" Gá
que são elas que habitam as cidades possam
ser melhores, mais vividos e onde o conceito
de comunidade volta a estar em destaque.
Mas, para isso, é fundamental disponibi-
lizar ferramentas capazes de otimizar as po-
Lenuauuades dos espaços urbanos. É certo que está em
causa o uso de conceitos como tecnologia, inovação,
melhoria nas técnicas construtivas, etc., mas é impres-
cindível não descurar esta questão essencial: é que são
as pessoas que vivem e dão vida às
nossas cidades ...
cidades desenvolvidas e que são a falta de oferta habi-
tacional nos centros urbanos, especialmente perto dos
locais de trabalho, e a consequente escalada dos preços.
É por isso que uma das ferramentas para resolver tais
problemas é a criação de espaços de co-liuing pois,
com áreas privadas mais pequenas (mas de qualidade),
permite-se uma maior alocação de utilizadores por
edifício, otimizando-o, com a óbvia disponibilização a
preços mais baixos. E depois porque as necessidades
dos novos habitantes são outras. Há um novo estilo
de vida. Não é só a busca de preços mais baixos que
motiva a procura destas formas alternativas, mas sim
uma maior apetência pela vida em comunidade, bene-
ficiando do coletivo. Estamos a falar dos habitantes do
futuro e, por exemplo, os Millen-
Esta é uma preocupação que
está a ganhar muita atenção a nível
internacional e por isso os concei-
tos de co-liuing, micro-housing,
co-working ou de student housing
e mesmo de senior housing
Os novos residentes
das cidades são hoje
os Millennials, os
digital nomads, os
young profissionais
nials, que são jovens do mundo,
necessitam de espaços flexíveis,
descomprometidos e partilhados.
As próprias noções de um
trabalho para a vida num mesmo
local são conceitos do passado.
Hoje as empresas e os trabalha-
dores privilegiam a mobilidade e
o conhecimento à escala global.
As relações empresariais são feitas
em rede, não carecendo de um
contacto pessoal frequente.
& assisted liuing, que são totalmen-
te focados nas pessoas e nas dife-
rentes comunidades, são hoje uns
dos principais focos de atenção dos
pr1ncipais investidores mundiais.
Na verdade, o mundo está a
meio de uma evolução alucinante,
com reflexos também sociais. Fa-
lamos do modo diferente como as
novas gerações encaram a vida pes-
soal, profissional e em comunidade.
Os novos residentes das cidades
ou os expats, com
diferentes tipos de
vivências, necessidades
e exigências. A indústria
do imobiliário não
pode ficar alheia
a essa transformação
E, portanto, o próprio co-working
é uma realidade que veio,
igualmente, para ficar.
E mais: estamos a assistir tam-
bém à chegada de alguns novos
projetas com uma mistura de
conceitos e ofertas, como projetas
são hoje os Millennials, os digital a combinar trabalho, lazer e vida
nomads, os young profissionais ou os expats, com di-
ferentes tipos de vivências, necessidades e exigências.
Ora, a indústria do imobiliário não pode ficar alheia
a essa transformação, tendo de estar atenta e conhecer
as novas formas..de fazer imobiliário, de criar espaços.
Interessa por isso conhecer as várias razões que es-
tiveram por trás do nascimento destas formas alterna-
tivas em cidades como Nova Iorque, Londres, ou Ber-
lim, onde, por exemplo, o co-liuingjá não é visto como
tendência, mas sim como realidade de uma sociedade
em mudança e como uma necessidade que vai desen-
volver-se no futuro. Pois bem, estas formas alternativas
de imobiliário residencial têm na sua base a superação
de dois problemas que são comuns à maioria das
em comunidade, como os hostels para digital nomads,
ou os edifícios que combinam harmoniosamente
co-liuing com espaços de co - working.
Entraves a tudo isto? Há e são significativos. O pior
mesmo é a regulamentação (nomeadamente camarária)
ou a ausência dela e o consequente grande temor de
que uma hipotética nova regulamentação venha (mais
uma vez) deitar por terra um novo caso de sucesso no
nosso país. Depois, o próprio conceito juridico-legal:
Habitacional? Serviços? Na área do turismo? E por fim,
a escassez de terrenos ou edifícios que se enquadrem
neste tipo de ativos imobiliários, com bons preços e
localizações. Mas concluo dizendo: a necessidade vai
criar a oportunidade. Já está a criar ... III [email protected]
88 VISÃO 27 JUNHO 2019