Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1
ARTES

Reinhold Würth,


o rei dos parafusos


O cognome estranho explica-
-se pela história familiar deste
self-made man alemão: aos 19
anos, Reinhold Würth herdou,
do pai, um pequeno negócio
de parafusos que transformou
num império global bilionário.
Hoje, aos 84 anos, o
empresário e mecenas alemão
tem outros trunfos: sobretudo
a coleção de arte iniciada
na década de 1960, que
soma cerca de 18 mil obras,
abrangendo desde peças da
Idade Média até aos nomes
sonantes da modernidade e
contemporaneidade (Cranach,
Holbein;Munch, Magritte,
Chilida, Kapoor, Anselm Kiefer,
Baselitz, Katz e muitos mais ... ).
Esse acervo alimenta os vários
museus por si fundados,
numa lógica de proximidade
às fábricas que a empresa
possui em vários pontos da
Europa, desde Oslo a La Rioja,
em Espanha, incluindo Erstein.
Uma estratégia que, refere
a diretora do museu francês,
Marie-France Bertrand, não se
dirige apenas ao público local.
José de Guimarães eldgia o
seu mecenas de longa data:
"Reinhold Würth coleciona em
profundidade: se ele quiser
fazer uma exposição dedicada
a Picasso, tem obras para
tal", garante. E acrescenta:
"Ele tem uma particularidade:
não vende uma única obra,
sabemos que não há uma
intenção especulativa."


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de treino e traquejo como pintor, ainda
estava muito influenciado pelo que se
produzia internacionalmente, na Eu-
ropa e em Nova Iorque." O mundo, da
África ao Japão, desassossegou-o: "Eu
estou sempre aberto a novos encontros,
porque estes surpreendem-me e quero
sempre ver até onde vão."
E o mundo tem sido generoso para
José de Guimarães, dono de uma obra
vital, colorida, povoada de figuras apa-
rentemente nai"ves, reconhecíveis ao
primeiro olhar. "Como o Miró", lembra
ele. Mas logo tamborila os dedos na


  • IIISTO SÃO PEDRADAS


NO CHARCO E EU


PRÓPRIO TENHO

DÚVIDAS. DIGO SEMPRE


QUE A MINHA OBRA


PRECISA DE 30 ANOS

EM CIMA PARA SER

PERCEBIDA"

mesa, impaciente, por se lhe recordar
esse rótulo do "Miró português": "Eu
sou outra coisa." Perante a exposição
agora patente na Alsácia, um visitante
declarou a Marie-France Bertrand: "Isto
é Guimarães e mais ninguém." "Isto são
pedradas no charco e eu próprio tenho
dúvidas. Digo sempre que a minha obra
precisa de 30 anos em cima para ser
percebida", lança o artista, por estes
dias já ocupado com uma série de obras
públicas para a China. Pergunta óbvia
ao criador do célebre logótipo feito para
o Turismo de Portugal, agora a cumprir
25 anos: Sente-se suficientemente va-
lorizado em Portugal? "Sabe, eu já não
tenho muito tempo para pensar nisso.
Felizmente, surgem-me propostas,
projetos ... "
Em outubro, todo o trabalho gráfico
do artista, por ele oferecido à Biblioteca
Nacional, será mostrado em Portugal,
ocasião em que será publicado o ca-
tálogo raisonné dedicado à sua obra.
Neste junho, a inauguração de José de
Guimarães, Collection Würth et Prêts,
levou SOO pessoas, incluindo embaixa-
dores, políticos, académicos e artistas
(o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa
prometeu uma visita daí a dias), ao Mu-
seu Würth de Erstein. Entre elas, Hélene
Frantz, 82 anos, vendedora de "belles
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