Eu não sei por quanto tempo dormimos, mas o estrondo alto de
um trovão me faz acordar assustado, meus braços vazios, o
porão escuro, o fogo apagado. Eu me sento e esfrego os olhos,
focando-os em Georgia, que está sentada perto da porta
choramingando. Ela bate com a pata no vidro.
Eu me ergo e vou até ela, olhando para a tempestade lá fora
que ainda está caindo com fúria.
— Marley? — Eu grito para o porão vazio.
Só o silêncio me responde. Georgia bate de novo na porta e
meu estômago se aperta. Marley está lá fora? Nessa chuva?
Abro a porta com tudo. Um vento frio corta as árvores nuas e
quase me leva junto. A chuva cai pelo telhado enquanto eu corro
em volta da casa, o dilúvio encharcando minhas roupas
imediatamente. Um calafrio sobe pela minha nuca. Um medo que
é familiar de uma forma na qual não quero pensar.
— Marley! — Eu grito enquanto corro, o som da eletricidade
vibrando no ar, relâmpagos cortando o céu com raiva. Uma dor
lancinante se espalha pela minha cicatriz e eu tento me livrar
dela, ignorando as memórias que começam a se intrometer
enquanto cambaleio para a frente, gritando o nome dela
repetidas vezes. — Marley, onde você está?
Saio para a rua, olhando o quarteirão de um lado para o
outro, os postes incandescentes vívidos na chuva, lutando contra
a escuridão da tempestade que ameaça encobri-los. Há outra
explosão de luz, um flash na frente dos meus olhos: um raio
acertou o transformador no fim da rua e cobriu o quarteirão de
faíscas. Eu luto para ver alguma coisa na chuva e no vento, mas
eles acertam meus olhos e meu rosto, minha cabeça gritando de
dor enquanto os postes apagam um por um, a escuridão
chegando cada vez mais perto de mim até que toda a rua
escureça.
Au-au! Georgia.
Giro na direção da casa e todas as luzes se acendem ao
mesmo tempo, iluminando o gramado da frente, a varanda, o
caminho para o porão. Marley voltou para dentro?
Outro relâmpago estoura no céu e eu vejo uma silhueta à
minha frente por um momento antes da dor me acertar,
car0l
(CAR0L)
#1