Penso em Marley, em todos os dias, todas as horas que nós
passamos juntos e nunca brigamos assim. Uma onda de
saudade me toma enquanto eu vejo Kim estourar.
Eu me lembro do nosso relacionamento antes. Antes do
acidente. Antes de Marley. A pulseira de berloques. Sempre
tentando consertar os buracos em vez de olhar para a causa
deles.
Não desta vez. Desta vez nós precisamos lidar com isso.
— Olha só a gente. Brigando mais uma vez. Como sempre
fazemos — eu digo, tentando manter minha voz estável. — A
gente não precisa mais fazer isso, Kim. Quer dizer, nós quase
terminamos sete vezes. Oito, se você contar a noite do acidente.
Nós somos péssimos em nos comunicar. Em lidar com nossos
problemas. E provavelmente foi por isso que você não falou nada
sobre Berkeley. Porque isso teria causado uma briga, como
sempre acontece, certo? É ridículo.
— Então agora eu sou ridícula? — Ela me desafia.
— É sim! — Eu digo, jogando as mãos para o alto. — Nós
dois somos. Mas vamos fingir por um segundo que não somos.
Vamos fingir que podemos dizer qualquer coisa, desde que seja
com honestidade, e a outra pessoa vai ouvir e entender. Sem
julgamentos.
Ela parece petrificada, mas fica em silêncio.
— Por que você não me falou de Berkeley? Por algum motivo,
você conseguiu contar para o Sam, mas não pra mim. Por quê?
— Eu não sei o que você quer dizer.
— Eu acho que sabe — digo. — Me mantenho firme. Me diga
por quê. “Eu quero saber como é me virar e não te ver ali.” Você
estava certa. Por que você está agindo como se nunca tivesse
dito isso?
— Se você está tentando se vingar de mim — Kimberly diz,
parecendo ferida —, está funcionando.
Ela sai pisando duro, batendo a porta atrás de si. Eu encaro o
ponto em que ela estava e solto um suspiro longo e frustrado.
— Ótimo.
car0l
(CAR0L)
#1