aconteceu no lago.
Ela fecha os olhos, desvia a cabeça, e eu me pergunto se nos
ver lado a lado a assusta. Parece surreal para mim também.
— Eu só tenho mais uma coisa a dizer e então, se você
quiser, eu vou embora — eu digo, observando pequenas gotas
agitando a água. — Eu estou tentando... não ser mais tão
controlador. Então se é isso que você quer, eu vou te deixar em
paz. Eu prometo.
Respiro fundo, me recompondo, e começo a dizer as palavras
que eu finalmente encontrei. Eu não sei se são as corretas, mas
são as minhas palavras.
— De todas as pessoas dormindo neste hospital com quem
você poderia ter conversado, você me escolheu — eu digo. — Eu
preciso acreditar que foi por um motivo. O mesmo motivo pelo
qual eu não pude deixar de te ouvir, Marley.
Eu me viro para ela, observando seu perfil. As sardas no
nariz. As olheiras em volta dos olhos, agora cansados, o mel que
era vibrante na minha lembrança, agora desbotado. Eu quero
tirar esse peso dela, mas ela precisa entregá-lo para mim. Eu sei
disso agora.
— Era destino nós nos encontrarmos. E agora estamos aqui.
Juntos, mas... não.
Eu penso em nós dois rolando na grama do parque, a pipa
voando para longe. No nosso beijo embaixo do visco no Festival
de Inverno, nas bochechas de Marley rosadas de frio. Penso em
como era segurar sua mão, seus dedos presos nos meu.
— Existiu um lugar no qual eu te amava, um lugar que você
construiu com as suas palavras e a felicidade que
compartilhamos foi tão verdadeira quanto qualquer coisa no
mundo real — eu digo, meu coração batendo irregular no meu
peito. — Lá a gente se conhecia. Porque nós conversávamos um
com o outro. Nós contávamos tudo um para o outro. E eu me
apaixonei por você, pelo que há de profundo em você. O que
aparece de você nas suas histórias. Aquela Marley... você não
pode só tê-la inventado. Eu estou pronto pra começar nossa
história de novo, do começo, se você me der a chance de te
fazer feliz.
car0l
(CAR0L)
#1