Minha cabeça está explodindo quando abro a porta da frente.
Largo as compras na entrada e corro direto para o banheiro.
Respirando fundo, seguro a borda da pia e sinto o mármore
gelado sob as minhas palmas.
— Ela não está te assombrando. É tudo coisa da sua cabeça,
idiota — digo para o meu reflexo.
Eu me inclino para a frente para encarar a cicatriz, a longa
linha vermelha e irregular, ainda inflamada e feia. Ergo o braço e
a toco de leve, querendo sentir a pele que se recupera sob a
minha mão, me perguntando o que ainda está quebrado ali
embaixo.
Talvez tudo.
Eu solto o braço e meus dedos encontram a bancada de
novo, agarrando-a com mais força. Meu olhar passa da cicatriz
para os meus olhos refletidos, as pupilas grandes e trêmulas.
— Kyle? — Uma voz diz atrás de mim e eu dou um salto de
quase um metro.
Eu me inclino para o lado e ignoro o meu reflexo no espelho
para olhar para a minha mãe, ainda com suas roupas de
trabalho, seus olhos cansados, mas alertas.
— Você está bem?
Como eu não me esquivo imediatamente, ela pega minha
mão, me levando pelo corredor até a sala de estar. Ela me senta
no sofá e eu finalmente solto a verdade.
— Eu fico vendo a Kimberly — digo enquanto me preparo
para a expressão de pena que vai surgir no rosto dela. — Nesse
sofá, na sorveteria e hoje nas arquibancadas. Eu sei que não é
real, não precisa me dizer isso. Mas mãe... parece tão real. E eu
fico sentindo que é porque foi minha culpa que...
Ela aperta minha mão para parar minha divagação, as
palavras pesadas no ar.
— Kyle, nada disso é culpa sua — minha mãe me garante.
Sua voz é calma. Segura. — Nada disso. Você vai melhorar.
Eu não acredito nela, mas pelo menos ela não está me
olhando como se eu fosse louco ou patético, o que é um alívio.
Só de contar para ela já ajudou a fazer minha respiração voltar
ao normal.
car0l
(CAR0L)
#1