Estou mesmo pronto para isso?
Penso nas semanas que se passaram desde que minha mãe
decidiu arrancar minha porta do batente. Acho que em alguns
aspectos me sinto mais forte. Estou realmente indo às minhas
consultas. Estou respondendo as mensagens do Sam em vez de
ignorá-las. Não pirando cada vez que vejo Kim em cadeiras
vazias ou do outro lado da sala, lugares em que ela não poderia
estar.
Mas hoje eu vou realmente vê-la. Vou ao cemitério ficar em
frente a uma lápide com o nome dela e tentar o máximo que
posso entender o que ela iria querer que eu fizesse.
E agora que esse momento chegou, eu estou com muito
medo. A mesma sensação de estômago contraindo quando a
falsa Kim decidiu aparecer ao meu lado durante aquele jogo de
futebol duas semanas atrás. O que vai acontecer quando eu
estiver realmente perto dela?
Quer dizer... Eu poderia fazer isso amanhã. Ou até mesmo
semana que vem. Quando a minha mãe chegasse em casa, da
rua, eu até poderia ligar para o Sam para... adiar. Mas eu só
estaria adiando.
— Não seja tão complicado, Kyle — eu murmuro e subo os
degraus, passando pela porta, esperando que a caminhada
superlonga até o cemitério me dê tempo suficiente para me
recompor.
Mas é claro que hoje parece ser só um quarteirão.
Rápido demais os portões de ferro fundido aparecem diante
de mim, as grandes árvores fazendo sombra sobre o mar de
túmulos, uma tristeza pesada nos galhos caídos. Diminuo ainda
mais o passo enquanto sigo pelo caminho, observando cada
lápide, adiando meu destino. Mães, pais, filhos, avós. Até mesmo
crianças.
Merda, eu não queria estar aqui.
Alguns túmulos estão bem cuidados, com flores frescas em
volta da lápide, lembranças de amigos e pessoas queridas.
Outros estão tomados pelo mato, não há mais ninguém para
cuidar deles.
car0l
(CAR0L)
#1