Ela me estuda com tanta incerteza que eu me pergunto se a
voz veio de algum outro lugar. Mas só estamos nós dois aqui.
Esfrego os olhos tentando focá-los nela. Algo na garota é...
familiar. Será que ela frequentou o Ambrose? Acho que não, eu
conhecia praticamente todo mundo que estudava lá e acho que
definitivamente me lembraria dela.
— Oi — eu digo, erguendo minha mão no aceno mais
desconfortável do mundo.
Ela se vira para olhar por cima do ombro, como se estivesse
procurando a pessoa para quem eu estou acenando realmente.
— Eu te conheço? — pergunto quando ela volta a olhar para
mim. Ainda estou tentando lembrar de onde eu a conheço, meu
cérebro passando por acampamentos, jogos de futebol e
corredores. Ela balança a cabeça em negação e, embora eu
possa jurar que já a vi antes, eu não insisto. — Você disse
alguma coisa agora há pouco?
A garota hesita, seus olhos cor de mel arregalados de
curiosidade. Ou talvez de surpresa. Ou talvez ela esteja confusa
por ter me visto brigar com a tampa de uma embalagem de
remédio por um minuto e meio.
— Eu não achei que você pudesse me ouvir — ela diz.
Eu me aproximo dela e noto uma constelação de sardas em
seu nariz.
— Eu ouvi alguém falando. Foi você?
Ela parece cautelosa, incerta se deve responder. Os olhos
dela examinam os meus.
Eu deveria voltar para o túmulo de Kim, o motivo de eu estar
ali, mas em vez disso as palavras saem da minha boca.
— Era uma vez, certo?
Os olhos dela se fixam nos meus e essas cinco palavras
pairam entre nós.
Ela coloca o cabelo atrás das orelhas, seu rosto corando.
— Eu... conto histórias — ela diz enquanto toca de leve uma
das flores cor-de-rosa.
— Histórias? Tipo... contos de fadas?
— Sim — ela responde, me olhando de volta com um sorriso
pequeno e satisfeito. — Exatamente como contos de fadas.
car0l
(CAR0L)
#1