algo de mim. — Que tal eu começar falando da Kim?
Então eu conto a ela. Conto de nós dois brigando pelo mesmo
balanço no recreio e Sam oferecendo o dele para pararmos de
brigar. De juntar coragem para escrever “Eu vc” no diário dela
no ensino fundamental. Eu conto a ela como eu e Kim
matávamos aula todo ano no nosso aniversário de namoro e
fazíamos uma pequena viagem de carro para um lugar surpresa
que ela tinha escolhido com antecedência. A praia, o aquário, um
parque nacional. Ela sempre levava os melhores lanches e fazia
a playlist perfeita para o caminho.
Todas as primeiras vezes. Todos os planos. Todas as
pequenas brigas e as pazes.
— Quero dizer, nós éramos perfeitos. Eu sei que éramos um
clichê, a capitã das líderes de torcida e o quarterback. Mas nós
éramos o casal que todo mundo queria ser. — Eu olho para as
flores da cerejeira espalhadas a nossa volta na grama. — E
mesmo quando não éramos mais, depois que eu estourei meu
ombro, tudo ficou bem, porque eu ainda tinha a Kim.
Olho para Marley, mas ela não diz nada, só espera que eu
prossiga com uma expressão suave e sem pressa no rosto.
Então eu conto a ela sobre o fim da minha carreira no futebol
americano. Quão devastado eu me senti vendo o raio-x, anos de
treinos e sonhos destruídos em uma fração de segundo, Kimberly
segurando minha mão na ambulância e no hospital também. Ela
nunca saiu do meu lado.
— Não me entenda mal, nós também brigávamos — eu
admito. Discutíamos sobre sair ou não com o time depois da
minha lesão, quando eu só queria ficar em casa. Ou quando ela
quis fazer uma viagem enorme para visitar várias faculdades,
mas eu não quis porque eu estava certo de que já tinha
conseguido uma bolsa integral na UCLA. Ou quando... Bom, nós
discutíamos sobre várias coisas. — Provavelmente mais do que
a maior parte dos casais. Mas eu sempre achei que era só
porque nos importávamos demais.
Eu passo levemente meus calcanhares sobre a grama.
— Eu não sei. Parece tão idiota agora. Era tudo tão...