Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1
CONTANDO UM POUCO DA

HISTÓRIA DOS FUNGOS

Talvez seja difícil lembrar de nosso primeiro contato
com o que hoje chamamos de fungos e, provavelmente, quando
começamos a aprender sobre o organismos e a divisão dos seres
vivos em reinos, fosse difícil absorver o que realmente estes se-
res representam e os quão importantes se fazem em nossas vi-
das. Os fungos, invariavelmente, estão entre nós, aliás, nós esta-
mos entre eles, pois até onde se sabe da história, eles já estavam
aqui quando surgiu a humanidade. Pouco se conhece sobre os
fungos e é pretensioso achar que não há mais nada a se alcan-
çar. A cada dia novas descobertas nos surpreendem e, como um
quebra cabeça, vão se verificando as inter-relações existentes
entre o mundo dos fungos e os outros seres vivos e até mesmo
aqueles inanimados, sempre sob o domínio do ambiente.


Os fungos abrangem inúmeras formas micro e ma-
croscópicas que vão desde pequenas células das quais cha-
mamos de leveduras, muito utilizadas na fabricação de bebidas
e pães, até os conhecidos cogumelos e orelhas de pau que po-
dem ser, em sua maioria, apreciados a olho nu e, alguns, consu-
midos como alimento. Outros, porém, como as trufas, crescem
abaixo do solo associadas às raízes de plantas específicas e
são consideradas como o alimento mais caro do mundo, sen-


Fóssil de um cogumelo encontrado no estado do Ceará, Brasil, datado de 120 milhões de anos
Fossil of a mushroom found in the Ceará state, Brazil, dating from 120 million years ago

do detectadas no campo somente por meio do olfato apurado
de porcos e cães devidamente treinados. Os fungos também
abrangem formas gigantescas percebidas pelos efeitos cau-
sados no ambiente, tais como a seca de florestas inteiras de
coníferas na América do Norte pela colonização de um único
indivíduo, o fungo Armillaria, considerado o maior e mais velho
ser vivo já constatado na terra, ocupando uma área maior que 9
km^2 (1, 2). Estes organismos também podem conter substâncias
para a cura de doenças, para o tratamento de enfermidades,
podem ser letais a outros seres vivos por suas preferências a
determinados substratos que lhes servem de alimento, além de
suas propriedades tóxicas.

É improvável precisar a época em que os fungos
surgiram na terra. No entanto, o fóssil de cogumelo mais antigo
do mundo foi encontrado exatamente aqui no Brasil, em rochas
da Chapada do Araripe, no estado do Ceará (3). A idade aproxi-
mada foi datada de 120 milhões de anos e está depositado na
Micoteca URM (University Recife Mycologia), da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) que abriga mais de 88 mil regis-
tros de fungos, sendo considerada uma das maiores coleções
de fungos herborizados da América Latina (4).
Primeiramente, por curiosidade e só depois por inte-
resse, o homem passou a notar os fungos como seres vivos
independentes. As primeiras influências negativas foram per-
cebidas provavelmente quando os fungos se encontravam as-
sociados às plantas, causando doenças que culminavam com
perdas na produção de grãos e a morte das lavouras de cereais,
com a consequente diminuição da população. Mesmo sem sa-
ber que se tratava de fungos parasitas de plantas, chamados
hoje de fungos fitoparasitas ou fitopatogênicos, o homem já fa-
zia conjecturas e tratamentos indiretos para tentar minimizar
os problemas por eles ocasionados.

Depois de milhares de anos e não longe do nosso tem-
po, o estudo sobre os fungos acentuou-se e evoluiu de forma
rápida, tamanha a importância de sua interação como o ho-
mem. Dessa forma surgiu conceitualmente a Micologia que é a
ciência específica que estuda tudo aquilo que se relaciona aos
fungos propriamente ditos.

Atrevemo-nos a colocar o já citado fóssil brasileiro de
120 milhões de anos, como a pedra, literalmente fundamental
de origem dos estudos micológicos, iniciando uma breve his-
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