Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1
NOSSA BUSCA PELOS

FUNGOS ENDOFÍTICOS

Os fungos endofíticos são considerados aqueles orga-
nismos que vivem dentro das plantas sem serem percebidos.
Aparentemente, vivem em harmonia com a planta hospedeira e
não causam sintomas de doenças ou danos externos visíveis.
Estes fungos desenvolvem com os vegetais uma relação tão ín-
tima que ainda carece de muitos estudos acerca desse envol-
vimento. Não sabemos se há alguma preferência por hospedei-
ro, se a colonização é temporária ou permanente, se em algum
momento na vida da planta ou em sua senescência estes fun-
gos podem se tornar patogênicos e, se os fatores ambientais,
tais como a nutrição da planta, a falta ou excesso de água, as
variações de temperatura, luminosidade e salinidade poderiam
alterar tal associação.


Nossa escolha pelo estudo dos fungos endofíticos to-
mou impulso a partir do momento em que tomamos consciên-
cia de que as restingas fluminenses constituem um imenso ma-
nancial de biodiversidade a ser explorado. Na restinga o clima
é quente, muito quente e aquece o solo que nada mais é do que
areia de praia. Areia branca que reflete o sol, aumentando ex-
ponencialmente a luminosidade. Também são fortes os ventos
que trazem a maresia e aumentam a salinidade do ambiente
seco. Nesse ambiente, ficamos a imaginar, sobre a diversida-
de dos fungos que poderia estar ali. Na restinga, as espécies
vegetais que vingam à beira mar são aquelas que suportam as
variações bruscas de clima, arenosidade e salinidade do solo,
déficit hídrico, ventos fortes e excesso de luz que moldam e li-
mitam o crescimento de cada uma (35). Realmente uma pressão
de seleção natural que agrupa uma vegetação característica e
praticamente desconhecida quando se fala na presença de fun-
gos endofíticos.


Assim, um local com tantas qualidades distintas, abri-
gando inúmeras espécies vegetais bem adaptadas, poderia
abrigar também uma grande diversidade de fungos, muitos de-
les talvez ainda não conhecidos pela ciência. Então, tomamos
para nós a tarefa de iniciar esta empreitada e explorar a diver-
sidade de fungos endofíticos em restinga. Para o conhecimen-
to e a identificação destes fungos precisamos coletar plantas
ou partes delas e, em laboratório, realizar um processo de de-
sinfestação e isolamento dos fungos que estariam vivendo do
interior desses fragmentos. Mas, não foi tão fácil assim. Além
das autorizações concedidas, pelos órgãos competentes, para
as coletas de material vegetal da flora brasileira, houve necessi-
dade de se conhecer e identificar cada espécie vegetal coletada.


Na busca do registro visual para as espécies vegetais e a
exuberância das suas inflorescências, antes de podermos mos-
trar os fungos endofíticos que buscávamos, achamos necessá-
rio mostrar e divulgar para o mundo a beleza única de algumas
dessas plantas. Muitas delas são utilizadas pela população lo-
cal com propósito alimentar, medicinal, ornamental, combustí-
vel, na construção civil e em tecnologias para a fabricação de
utensílios para a caça e pesca(36). Essa necessidade originou o
livro “O Tempo e a Restinga”(34) publicado no final de 2015, o
qual foi acompanhado pela exposição “Karuara” (vento de tro-
voada que aparece em janeiro) para a divulgação de espécies
vegetais que ocorrem nesse ecossistema.

Com isso, uma pequena porção do que vem a ser a nos-
sa restinga tomou novo impulso quanto ao conhecimento ou
reconhecimento pela população, embora muitas áreas ainda
precisem ser exploradas e divulgadas, pois o estado do Rio de
Janeiro possui 1.194,3 km^2 de área onde ocorre essa vegeta-
ção. Aqui no norte fluminense, encontramos restinga nos mu-
nicípios de São Francisco de Itabapoana, São João da Barra,
Campos dos Goytacazes, Quissamã, Carapebus e Macaé, cada
uma apresentando fitofisionomia diversificada, sendo apontada
como uma importante área de transição florestal da costa do
sudeste brasileiro (37).

A decisão para o início de nossas explorações das res-
tingas do norte fluminense deu-se no segundo semestre de

Flores de Ipomoea pes-caprae nas dunas da Restinga de Atafona
Ipomoea pes-caprae flowers on the dunes of the Atafona restinga
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