Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

APRESENTAÇÃO


No Brasil, o conceito de restinga adquiriu um senti-
do mais elástico que nos Estados Unidos. Tanto uma lín-
gua de areia ligando dois pontos consolidados quanto um
depósito de areia junto à costa recebem o nome de restin-
ga. Sob o ponto de vista poético, existem muitas restingas
numa só. Basta mudar o olhar. Uns preferem estudar as la-
goas, outros as espécies vegetais ou a fauna. Há quem se
interesse pela história da ocupação desse espaço ou pela
cultura dos nascidos na restinga. Daí o título deste livro:
“RESTINGA PARALELA”, pois, olhando nesta perspectiva,
há várias restingas numa só, todas compostas de riquezas
de detalhes.


O primeiro capítulo, “As Restingas do Norte Flumi-
nense entre os Séculos XVI e XXI” aborda as visões acer-
ca das duas restingas do norte fluminense efetuando um
levantamento de documentos escritos, mapas, desenhos
de navegadores, registros de viajantes e cronistas do pe-
ríodo colonial. Reúne também impressões de naturalistas
europeus e brasileiros que as percorreram e de relatórios e
projetos sobre a atuação de órgãos governamentais e pri-
vados. A conclusão prévia a que se pretende chegar é que
as restingas foram muito transformadas por ação huma-
na, ao mesmo tempo em que o conhecimento sobre elas
também aumentou com o passar do tempo, além de provi-
dências tomadas para a proteção dos seus ecossistemas.


O segundo capítulo, “Vozes da Restinga” aborda
a formação sociocultural das restingas do Norte Flumi-
nense. Segundo Gabriel Soares de Souza, escrevendo na
segunda metade do século XVI, a primeira tentativa de
colonização portuguesa do Norte Fluminense ocorreu na
restinga norte, perto da foz do Rio Paraíba do Sul. Fracas-
sou. Uma linha da historiografia sustenta que a coloniza-
ção contínua da região foi feita por pescadores vindos de
Cabo Frio que se instalaram na atual Atafona, em 1622, e
fundaram São João da Barra. A restinga Sul, que se inicia
na Barra do Furado e vai até Macaé, foi ocupada super-


ficialmente. Suas lagoas e sua vegetação nativa ficaram
protegidas pela própria natureza, apesar de existir nessa
restinga um caminho com intenso movimento para o Rio
de Janeiro. Com exceção de Macaé, nenhum núcleo urba-
no expressivo desenvolveu-se nela, pois Macaé expandiu-
-se pela margem esquerda do rio que tem seu nome.

No capítulo 3, “Habitantes Ocultos de Plantas de
Restinga”, apresentamos muito além das areias, das plan-
tas e da paisagem das restingas. Abordamos uma trajetó-
ria histórica da relação do homem com os fungos, de forma
a levar às pessoas, externas à academia, ao conhecimento
a respeito desses organismos que vivem intimamente en-
tre nós. A importância que exercem sobre o homem e o
ambiente não deixa de fora o palco que é a Restinga. Este
ecossistema constitui-se num inesgotável repositório de
fungos que vivem dentro das plantas sem serem notados
e que ainda não são conhecidos. Este capítulo trás à tona,
numa linguagem prática, o que vem a ser os organismos
do Reino Fungi, qual a relação e importância com as plan-
tas, suas aplicações para o homem, e o imenso manancial
que se constitui estas áreas próximas ao mar.

No capitulo 4, “Arte na Diversidade”, buscamos im-
pactar os apreciadores do livro com fotografias macro de
mais de 20 diferentes espécies de fungos obtidos de plan-
tas de restinga que, por serem invisíveis ao olho nu, só
podem ser apreciados quando cultivados e fotografados
para este prazer. As características de cada espécie são
marcantes e se transformam em imagens que sugerem ní-
veis visuais abstratos, compondo uma arte ainda pouco
apreciada fora do meio acadêmico específico. Com isso,
pretende-se levar o leitor ao conhecimento e a apreciação
artística do trabalho. Estes fungos, além de oferecerem a
promessa de descoberta de novas substâncias com valo-
res terapêuticos já comprovados, apresentam uma beleza
indescritível, representam verdadeiras obras de arte que
qualquer observador teria dificuldade de traduzir em pala-
vras.

Os autores
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