Restinga Paralela = Parallel Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

Em famoso dicionário publicado 1813, restinga ou ras-
tinga aparece como baixo de areia ou pedra na costa, junto ao
mar(4). Tudo indica que a palavra era largamente usada pelos
portugueses durante o período das grandes navegações. Os
pequenos rochedos a que se refere Léry devem ser os mesmos
que ainda se encontram na foz do Itapemirim. Sendo um deles
ligado ao continente por um guia-corrente de pedra construí-
do no século XX. Podem ser também falésias ou fragmentos
delas erodidos pelo mar. Depois, uma longa extensão de terras
planas, bem típicas das unidades setentrional e meridional das
restingas do norte fluminense, até Macaé, ponto em que o pla-
nalto cristalino confina com o mar e forma várias ilhas, como
nota Léry.


Redigido, ao que parece, a partir de 1573/1574 até, tal-
vez, 1590, o Roteiro de todos os sinais na Costa do Brasil atri-
buído ao cartógrafo Luís Teixeira, omite os nomes dos rios Ita-
pemirim, Itabapoana, Paraíba do Sul e Macaé, só aludindo, no
que interessa ao conhecimento das restingas, a “uma restinga
que entra dentro do mar 3 ou 4 léguas e é todo banco de areia”,
que coincide com os parcéis do Cabo São Tomé, conforme co-
mentário de Max Justo Guedes(5). De novo a expressão restin-
ga, agora usada como prolongamento de depósitos de areia na
costa continental penetrando no mar.


Em 1587, Gabriel Soares de Souza publicou um roteiro
da costa do Brasil, bem mais detalhado que os anteriores. Fi-
guram, em seu tratado, os rios Tapemerim, Managé e Paraíba,
hoje Itapemirim, Itabapoana e Paraíba do Sul. Sobre este último,
diz que “tem barra e fundo por onde entram navios de honesto
porte...” Do cabo de São Tomé, a que faz simples menção, passa
a Macaé(6).


Para encerrar o século XVI, cabe referência ao relato de
Anthony Knivet, que integrou uma expedição de Thomas Caven-
dish rumo ao oceano Pacífico, malograda no Atlântico sul. Con-
fuso e bastante fantasioso, há dificuldade em identificar nele o
itinerário percorrido pelo desafortunado inglês. Sua geografia
fantástica resulta numa verdadeira miscelânea de acidentes
geográficos nos quais não se pode confiar(7).


Plantas e animais. Pragmáticos, preocupados em explo-
rar as riquezas nativas das terras conquistadas e montar uma
empresa colonial nelas, os europeus passaram pelo território
que futuramente constituiria o norte fluminense embarcados,
vendo-as do mar e registrando os pontos mais visíveis da cos-
ta, além de colherem informações de terceiros sobre ele. Nem
mesmo Pero de Góis, que tentou instalar dois núcleos europeus
nessas terras, deixou relatos de plantas e animais nativos. Kni-
vet fala de almécega e de jacarés, sem, todavia, contextualizá-
-los em seus ambientes(7). Léry, apoiando-se em informações
de um intérprete normando, assinala que os índios goitacás


eram capazes de abater veados e corças alcançando-os em
corridas a pé, tamanha a sua velocidade(3). Gabriel Soares de
Sousa deixa o registro de que estes índios capturavam tubarões
oferecendo-se como iscas e enfiando um pedaço de pau afilado
nas duas pontas na garganta do peixe. Rebocado para a terra,
os nativos aproveitavam do tubarão apenas os dentes para pro-
duzirem pontas de flecha(3).

As restingas no século XVII


Terras e águas. Devolvida a Capitania de São Tomé à Co-
roa portuguesa por Gil de Góis, em 1619(9), ficaram suas terras
sem dono até que sete fidalgos a requereram a título de ses-
marias, em 1627. A dois deles, Miguel Aires Maldonado e José
de Castilho Pinto, atribui-se um documento que se tornou céle-
bre e polêmico com o título abreviado de Roteiro dos Sete Ca-
pitães(10). Na verdade, descobriu-se que ele foi redigido por um
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