apresentada em simpósio internacional ocorrido no Rio Grande
do Sul, em 1982, também a incluía, já que se destinava a todas
as restingas do Estado do Rio de Janeiro. No I Simpósio sobre
Restingas Brasileiras, Maciel(59) propôs sua proteção por uma
APA. Em 1992, o Centro Norte Fluminense para Conservação da
Natureza apresentou proposta de criação de Estação Ecológica
Estadual, com gestão da Universidade Estadual do Norte Flu-
minense(66). Posteriormente, tentou-se viabilizar a implantação
da APA de Iquipari pela Câmara de Vereadores de São João da
Barra(67). No fim do século XX, havia apenas dois estudos mais
detalhados sobre a restinga norte(68), ao passo que a restinga
sul é das mais estudadas do Brasil. Ambas foram incluídas na
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica na condição de Área de
Pesquisa Experimental e Recuperação(68).
Os problemas que mais afetam os ecossistemas das
duas restingas do norte fluminense, atualmente, são a poluição,
a eutrofização, o assoreamento, a drenagem total ou parcial de
lagoas, os aterros, a urbanização de margens, as aberturas de
barra e a pesca predatória, no que concerne às lagoas costei-
ras. Já os ecossistemas vegetais nativos vêm sofrendo desma-
tamento tanto para fornecimento de energia quanto para abrir
espaço à agricultura, à pecuária e à urbanização.
Para assegurar uma proteção mínima desses ecossiste-
mas, cabe efetivar o Parque Nacional de Jurubatiba, criar uma
unidade de proteção na restinga norte, consolidar a Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica e possivelmente integrar todas as
lagoas restantes no norte fluminense numa unidade Ramsar.
As restingas no século XXI
Nas duas décadas iniciais do século XXI, a restinga nor-
te da região conheceu a profunda transformação causada pela
instalação do Complexo Logístico Industrial Portuário do Açu.
Planejado para ser mais que um porto, o grande empreendi-
mento exigiu uma série de Estudos de Impacto Ambiental que
aportaram muitos conhecimentos.
Na restinga sul, os conhecimentos se ampliaram tam-
bém graças às pesquisas motivadas pela consolidação do
Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, notadamente pa-
trocinados pelo Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje, ela talvez seja a
restinga mais estudada de todo Brasil. Todas as demais insti-
tuições universitárias, como Instituto Federal Fluminense (IFF),
Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Estadual
do Norte Fluminense (UENF), vêm desenvolvendo estudos so-
bre as restingas.
Deve-se considerar que a restinga norte conta hoje com
duas Unidades de Conservação (UC): a Reserva Particular do
Patrimônio Nacional Fazenda Caruara, criada e mantida pela
empresa Prumo Logística, e o Parque Estadual da Lagoa do Açu
(PELAG). A primeira UC mereceu um exaustivo levantamento
florístico empreendido por Assumpção e Nascimento(69) bem
como forneceu dados relevantes para a publicação de um livro
fundamental sobre a restinga norte da região, que é “O Tempo
e a Restinga”(70). A RPPN Fazenda Caruara é alvo de pesquisas
do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), da UFF, UENF e ISECENSA. O
recém-criado Plano de Manejo para ordenamento do uso, pre-
servação e conservação da Unidade, contemplará programas
de pesca, extrativismo, visitação, educação ambiental e pesqui-
sa.
O PELAG é uma unidade de conservação de proteção in-
tegral. Ele assegura a preservação de remanescentes de vege-
tação nativa de mata atlântica, como restinga, mangue e uma
importante área alagada (o banhado de Boa Vista, além da La-
goa do Açu, com 13km de extensão no litoral); a integração de
seus ecossistemas com a diversidade sociocultural da região;
as espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção, da flora
e da fauna. O potencial turístico do PELAG mereceu uma mo-
nografia de Margarida de Fátima Souza Inácio, com o título de
“Parque Estadual da Lagoa do Açu (RJ): Potencialidades entre
interesses e conflitos para a implantação do turismo receptivo”.
Há também estudos acadêmicos sobre as lagoas da restinga nor-
te.
A mais recente notícia é a criação do Parque Natural
Municipal da Restinga do Barreto com 32 hectares. Segundo
seu coordenador, o biólogo Henrique Abrahão, a restinga do
Barreto é um ecossistema costeiro caracterizado por um terre-
no arenoso, criado pela sedimentação de rios e depósitos ma-
rítimos ao longo dos milhares de anos, com forte influência do
vento, do sal, do sol e das mudanças das marés. A área possui
vegetação típica, com plantas muito resistentes às variações de
temperatura e aridez do solo (como os cactos, as bromélias e as
pitangas). Esta vegetação, capaz de preservar as dunas, é fun-
damental para conter o avanço do mar e preservar a exuberante
fauna local.
Devemos mencionar ainda os trabalhos de Salvatore Si-
ciliano, sobre mamíferos marinhos da Bacia de Campos, e de
Davi C. Tavares, sobre aves.
Atualmente, está em voga a história do tempo presente.
Por mais que o autor simpatize com ela, é prudente manter re-
lativa distância no tempo a fim de efetuar avaliação sopesada
e justa. Por isso, o encerramento no ano 2000. Uma conclusão
que se impõe com clareza é que, nos séculos anteriores ao XX,
as duas restingas contavam com mais biomassa e biodiversi-
dade, embora houvesse pouco conhecimento delas. Hoje, o co-
nhecimento é grande, mas houve um empobrecimento progres-
sivo delas em termos de biomassa e biodiversidade.