EBOOK-TEMPO-DE-VOAR (1)

(MARINA MARINO) #1

raiva, escorraçando o pobre do animal. Essa atitude,
porém, já tinha sido prevista pelo trio apocalíptico, que,
como derradeira forma de afronta, bem treinara o seu
mensageiro para que sumisse tão logo o bilhete fosse
retirado.


Porque captasse a real intenção daquela mensagem,
não houve, para a morte , adjetivos suficientes com que
pudesse qualificar os seus antigos companheiros, e isso
tanto mais a torturava quanto mais ultrajada se sentia.


Malditos! – bradou a morte , com todo o furor do seu
ser.


Esse desabafo, contudo, pouco ou nada amenizou.
Seria necessário bem mais que um paliativo para que
toda sua ira fosse escoada, para que o seu orgulho ferido
se visse ressarcido.


Mas o que poderia fazer uma simples moribunda
contra a peste , a guerra e a fome juntas? A resposta não
vinha. E os lábios se cerraram, a fronte se abaixou, e o
corpo se prostrou diante do desalento.


De repente, uma voz se fez ouvir:


  • O tempo urge!...
    Não se pode afirmar que a morte ouvira a voz da
    consciência, e que esta a relembrava sobre o pouco
    tempo que ainda lhe restava. Viesse de si ou de outrem, o
    fato é que se o tempo voava, era preciso que fosse muito
    bem aproveitado. Foi aí que ela se lembrou da última

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