REVISTA VOX - ABRIL 2021

(VOX) #1

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O ex-publicitário José Leandro Ro-
drigues Xavier, o Zé Leandro, 34 anos,
decidiu mudar seu estilo de vida quan-
do tinha 28. De uma rotina de trabalho
exaustiva em São Paulo, capital, a uma
rotina menos estressante em Floria-
nópolis, Santa Catarina. Rodeado de
amigos, foi apresentado a um novo jeito
de se alimentar, e mal sabia que isso
transformaria para sempre seus dias.
O estado ranqueado como um dos
cinco maiores produtores de alimentos
orgânicos do país, e consumidor de
quase 100% desse total, teve
um papel fundamental na
trajetória daquele novo Zé
Leandro.
Lá ele frequentou como
convidado, o Centro de
Ciências Agrárias dentro
da Universidade Federal,
referência em agrofloresta,
assim como eventos, aulas
e congressos, que o deram
uma primeira base sobre o
assunto. “Quando eu larguei
a publicidade, brinco que co-
mecei uma formação livre.
Já fiz cursos em SC, RJ, GO, DF, PR, BA
e aqui no estado de São Paulo, fui me
abastecendo de material de gente que já
fazia isso”, relembra o produtor.
A chance de colocar a mão na terra
e viver o que aprendeu veio quando
precisou administrar parte de uma
propriedade da família, em Tupã. Lá,
o que encontrou o deixou desolado.
Embalagens de agrotóxicos descar-
tadas ao relento pelos arrendatários,
solo empobrecido com início de erosão,
devido ao manejo incorreto.
De cara notou que a agricultura
orgânica era um caminho. “Fui estudar.
Conheci Ernest Göestch, e já começa-
mos com agrofloresta e orgânicos. Hoje


participo de um grupo de agricultores
que financia pesquisas científicas,
de engenharia genética e ambiental”,
explica. Nascia, então, o Projeto Fazen-
da Alvorada Agroecologia, que deu
origem à Da Tribo.
Nos cinco hectares escolhidos para
o projeto, Zé Leandro e outros dois
amigos criaram barreiras vegetais para
estabilização do terreno e iniciaram o
processo experimental com plantio de
árvores nativas, eucalipto e bananeiras,
financiado com investimento próprio.

“A gente escolheu essa área para poder
mostrar a recuperação desse solo, e
que é possível utilizar áreas ociosas ou
subutilizadas para produzir alimento”,
conta.
Quase um ano depois investiram
em produção e o retorno imediato veio
com folhagens e legumes, e cerca de dez
clientes atendidos a domicílio. Anima-
dos, a ideia de formalizar ganhava vida.
Aos poucos os sócios se foram e a che-
gada de colaboradores e novos consu-
midores indicava que o projeto evoluía.
Em 2019 a mãe, contadora rural por 30
anos, entrou para o negócio.
Atualmente, de acordo com o pro-
dutor, já foram mapeadas mais de 40

culturas na propriedade, entre folhas,
frutas, raízes, tubérculos, legumes de
fruto e de raízes, tudo de acordo com a
sazonalidade.
“A agricultura orgânica respeita
muito a sazonalidade da planta para
evitar a necessidade de usar os agro-
tóxicos, adubações químicas superpe-
sadas que ela não consegue absorver”,
esclarece.
No lugar de venenos, o uso de bio-
fertilizantes verdes a partir de farelos
de mamona e arroz, esterco e soro de
leite para fortalecer as folhas
e ajudar na incidência de
bichinhos que poderiam
comê-las e prejudicar a
cultura.
Para Zé Leandro, a
agricultura orgânica é
muito mais ética. “É um
cultivo que dá trabalho,
mas quando o controle
biológico é necessário, como
em tempos de pandemias e
doenças, vemos que mapear
nossa produção é muito
importante”.
De toda a produção da proprie-
dade, Zé esclarece que cerca de 75% é
comercializada direto com o consumi-
dor final.
E ele desmistifica um pensamento
muito comum sobre o custo do alimen-
to orgânico, já que existe um pré-
-conceito de que esse tipo de produto é
muito mais caro.
“A cadeia é que é diferente, então a
dinâmica muda. Projetos agroecológi-
cos estão muito ligados a produtores
locais. Se eu tenho algo aqui, em grande
volume e que posso oferecer, não tem
por que eu cobrar caro, então o meu
preço é muito mais competitivo do que
o convencional, às vezes”, compara.

“Quando eu larguei a publicidade, brinco


que comecei uma formação livre. Já fiz


cursos em SC, RJ, GO, DF, PR, BA e aqui


no estado de São Paulo, fui me


abastecendo de material de gente


que já fazia isso. ”
José Leandro

DA TRIBO


DO SOLO, A VIDA

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