RLPV 5

(Anita Santana) #1

primeiro dia de junho. Adormeci
feliz, com frio, mas feliz.


O primeiro dia de Junho me fez
recordar de todas as maravilhas
que estavam por vir. O sol raiava
forte no céu, mas o frio ainda
assim era preponderante. Fui ao
quintal contemplar meu jardim,
meus gatos, o sol e aquele ar
gélido que entrava pelas minhas
narinas. Algum vizinho já estava
com o som ligado. Que alegria
ouvir aquelas músicas, enfim eu
estava em casa. Era fácil perceber
pelo tipo de música que eu ouvia
ali no meio do quintal, em plena
terça-feira. Fechei os olhos por
um tempo e aquele forró inebriou
meu ser de forma tão intensa que
me peguei dançando sozinha.
Uma mão como se a segurar a
minha própria cintura, outra como
se a segurar a mão imaginária de
alguém. Era fácil descobrir cantor,
banda... não há um nordestino que
não se curve à delícia de se ouvir
Canários do Reino. Pode até haver
os que não dancem, mas os que
não gostem eu duvido muito.
Brinquei de São João ali, no meio
do quintal, dançando “Quando o
mês de Junho chegar!”, e só parei
quando a música acabou. Sorri e
me senti feliz por estar novamente
em minha cidade.


Retomei minha rotina de
trabalho/estudo e essa inebriante
sensação aos poucos foi se
dissipando, até a manhã seguinte


quando o vizinho reproduziu o
mesmo repertório, e eu me peguei
dançando, sozinha, mais uma vez.
Isso se repetiu pelos dias
seguintes. Nesses primeiros dias
na cidade, revivi cada detalhe do
mês mais amado por mim. Os
ensaios de quadrilha nas
instituições de ensino, as festas
escolares, as comidas, as bebidas,
as ruas enfeitadas de bandeirolas,
os vestidos de chita que colorem
as danças, as bombinhas que
divertem as crianças, as
brincadeiras que, envolvem
pólvora e brasa, e que, em outras
épocas seriam absurdamente
condenáveis, mas não no São
João, tudo pode ao redor de uma
fogueira.

As músicas... essas são as que
mais mexem comigo, e nem os
muitos anos de falta de companhia
para dançar me fizeram esquecer
o prazer de bailar até suar, mesmo
embaixo de muita roupa e da
baixa temperatura, no meio da
praça, ao som das bandas que
animavam as noites do nosso tão
amado São João. Nem o cheiro de
fumaça que toma conta da cidade
por pelo menos dois dias e que
fica impregnado nas roupas,
cabelos, camas, em tudo,
absolutamente tudo, faz com que
essa época perca o brilho que tem.
O que é Seabra sem São João?

A cada manhã ouvindo o mesmo
repertório proporcionado pela
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