Palavras e Pontos por Regina Ruth
Noto que está remexendo a
sacola.Queseráqueprocura?Olhesó,
é um rosário! Será que está com
medo da estrada? Vou novamente
tentar falar com ela. Se for medo,
posso distraí-la, e até mesmo
confortá-la!
Inútil... Recostou a cabeça,
cerrouosolhos,masseiquenãoestá
dormindo. Está rezando... Sei disso
porquepassaascontasdorosáriopor
entreosdedos.RezoumaAve-Mariae
cronometro o tempo. É o mesmo
espaço de tempo que ela leva para
passarosdedosdeumacontaaoutra.
A viagem segue... Agora, além
doburburinhotorturantequenãome
deixa concentrar na leitura, ainda
existe esta preocupação a me
martelarosmiolos.Queriatantofalar
comela!Pelasminhascontasjárezou
o terço duas vezes. Continua com a
cabeça reclinada e com os olhos
fechados. Seus cílios estão úmidos...
Tenho certezade que sentevontade
dechorar,desoluçar.Ouseráqueestá
chorando?! Chego a ficar irritada
diantedocercoqueelacriou,emais
irritada ainda diante da minha
impotência.
Engraçado! A mulher deve ter
adormecido. Já não corre mais as
contasdorosáriopelosdedos.Osono
émesmomágico!Olhandoagora,seu
semblante não tem aquele amargor
deantes,háumaaparentelevezanos
traços do seu rosto. O corpo está
relaxado, solto. Balança quase que
suavemente, apesar dos solavancos
doônibus.
A estrada está uma lástima!
Nãoseisepelafaltadechuvas,masa
terra muito batida deixa as
imperfeições do terreno mais
salientes. Talvez seja o excesso de
calibragem dos pneus. Sei lá! Só sei
que pula tanto que fica difícil
equilibrarocorposobreapoltrona.
Maria Santíssima! Que sono
profundo tomou conta da minha
parceira! Nem se incomoda com o
balanço do ônibus. Balanço é um
termo muito suave, brando
demais para descrever a
situação. Na realidade mais parece
umgalope!
Achoqueagoraconsigoler um
pouco. Afinal, minha preocupação
nãotemmaisrazãodeser.Aparceira