Crusoé - Edição 179 (2021-10-01)

(Antfer) #1

“Um dos aprendizados que se pode tirar dessa eleição é que o Die Linke e


o AfD serão apenas partidos de protesto. Eles não são compostos por


membros com ideias em comum e um programa de governo. Apenas


são agregações que empunham bandeiras do momento para conquistar


os eleitores que não se viram representados nos partidos tradicionais”, diz


o cientista político alemão Thomas Pluemper, professor da Universidade


de Economia e Negócios em Viena, na Áustria, que estuda os partidos


políticos na Alemanha. “Ao votar em um partido de protesto, o eleitor não


imagina que um dia ele será governo. Apenas quer externalizar sua


frustração com a política.”


O Die Linke e o AfD receberam mais votos na antiga Alemanha Oriental,
onde existe um ressentimento em relação ao resto do país, mais rico e
desenvolvido. Nas cidades da Alemanha Oriental, as duas siglas radicais


apresentam-se como as vozes do “leste prejudicado”. Nos anos 1990, essa


narrativa rendeu votos ao Die Linke. Nos últimos anos, muitos dos seus
eleitores migraram para o Alternativa para a Alemanha, indiferentes à
acrobacia ideológica. Foi isso que levou o partido de extrema-direita a
vencer as últimas eleições em dois estados, a Saxônia e a Turíngia, com
24% dos votos em cada um. No restante do país, contudo, o AfD perdeu
espaço.


À procura de slogans capazes de mobilizar o eleitorado, o Alternativa para
a Alemanha colecionou mais erros que acertos. Quando foi fundado, em
2013, sua bandeira era atacar o socorro financeiro à Grécia, que integra a
zona do euro. Quando o assunto saiu do radar, o partido ficou sem
palanque. Em 2015, a entrada na União Europeia de 1 milhão de
refugiados sírios e de outras nacionalidades deu à sigla a sua principal
razão de existir. O AfD, então, passou a criticar os imigrantes e a pedir a
saída da chanceler Angela Merkel, para quem a Europa tinha uma
obrigação moral em recebê-los. Só que o sucesso do país em receber
centenas de milhares de pessoas nos anos seguintes e a queda no fluxo
fez com que a imigração perdesse relevância e passasse a ser uma
prioridade apenas para 20% da população. Isso exigiu que o partido, em
março de 2020, começo da pandemia, abraçasse outra causa: passou a


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