AF MULHERES FERIDAS 150x220 V2_bx (2)

(BROOK) #1
Tânia Brunello

era brincar. Que sensação maravilhosa de liberdade! Liberdade de
uma criança, a sua única preocupação naquele momento era a de
não cair das trilhas de comboio para não se magoar, caso caísse,
ela se levantaria e prosseguiria. Ainda que esta queda lhe causasse
algumas leves feridas pelo corpo, não desistiria de prosseguir.


Agora, porém, não se tratava de brincadeiras de criança em
uma linha de comboio, se tratava da sua vida real, da sua família,
das coisas que para ela eram tão importantes. Embora a diversão
fosse agradável ao seu coração, havia outro sentimento batendo
forte dentro dela, e era o desejo de chegar o mais rápido possível
em casa para assistir na televisão o seu programa predileto, comer
um delicioso pão torrado acompanhado de um delicioso chá
quente que só mesmo sua querida avó sabia preparar. Ansiosa,
dizia ela:



  • Vamos, vovó, corre! Está começando o sítio. Se a senhora
    não se apressar, vamos perder o início do programa.

  • Calma, Ceci, não corra! Espere‑me, eu já não tenho mais
    este vigor que você tem, e depois, o sítio pode esperar. Retrucou
    sorridente a exausta avó.


Quando criança, a coragem, a força, a curiosidade e a ousadia
foram as virtudes que a acompanhavam, porém, na maior idade, o
medo, a insegurança e a baixa estima prevaleceram em sua alma.
Cecília então sorriu e chorou ao mesmo tempo em que se recordou
da sua infância.


Na vida adulta, caminhamos nos trilhos da vida, a gente
cai, levanta, mesmo sentindo medo de nos levantarmos e de
prosseguirmos por que algumas feridas que adquirimos nas quedas
são tão graves, que pensamos nunca mais seremos curados. O que
resta destas quedas são dores e desilusões, sofrimentos que não se

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