AF MULHERES FERIDAS 150x220 V2_bx (2)

(BROOK) #1
Tânia Brunello


  • Sim! Mas é grave? Ela está bem?

  • Ela está sendo medicada, mas parece que terão que operá‑la
    de emergência.

  • Tudo bem! Vou tomar um banho e logo estarei aí, vai levar
    algumas horas, espero que a autoestrada esteja vazia. Cecília daqui
    a pouco eu estarei com vocês. – Despediu‑se e desligou o telefone.


No caminho de volta para o quarto parou diante de uma
máquina automática de café, comprou um chocolate quente, e
entre um gole e outro, tentou fugir novamente das lembranças,
mas elas não a deixavam, e continuavam cada vez mais fortes.


Lembrou‑se desta vez que se sentia triste todas as vezes
que precisava levar algo na prisão para a mãe, era uma sensação
horrível, vê‑la ali naquele lugar sujo e frio, com pessoas perdidas e
infelizes. Nada comparado com o caminhar sobre as ferragens da
linha de comboio!


Certa vez, sentada no muro do colégio, ali sozinha, ainda
adolescente, tomou uma decisão que mudou seus comportamentos
por anos, decidiu que nunca mais sorriria e daquele dia em diante,
se tornaria uma menina seca, séria e sem brilho.


De repente, as lembranças que agora batiam pedindo para
entrar, não agradaram, eram mais intensas, voltavam tão reais
como outrora, causando‑lhe uma dor ainda maior. Visualizava
agora as cenas nas quais muitas vezes nas madrugadas acordava,
e escondida pelos cantos da casa, sondava sua mãe, drogada, que
olhava através da cortina da sala pelos vãos da janela em direção à
rua, a cada farol que via se aproximar, entrava em pânico, pensando
que fossem as viaturas da polícia que vinham para levá‑la.

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