ELISA-BERNAL-MINHAS-CONVERSAS-COM-ALEGRÍA (1)

(MARINA MARINO) #1

E a última coisa que quero compartilhar com você, e sei que
você vai me entender, foi uma noite aqui, em Benalmádena,
quando às 2 horas da manhã, despertei com as sirenes de algum
carro de bombeiros ou de polícia. Acordei angustiada e comecei
a dizer: “Dani! Dani! Aconteceu algo com Dani, com a moto?
Onde está?”. Quis correr ao seu quarto, ver se ele estava ali
dormindo. Quando, de repente, creio que nem tinha chegado ao
seu quarto, recordei que Dani já estava morto. Eu senti como um
alívio, porque então já não lhe ia acontecer mais nada. Se já está
morto, não tenho mais que me preocupar, pensei. Voltei para
minha cama e dormi tranquilamente. O absurdo disso também,
não? Como eu poderia estar tranquila porque meu filho já
estava morto? Pois foi assim que eu me senti.


Você vê o absurdo do personagem dentro do jogo?


Todas estas experiências, que não sabia onde encaixar, eu estou
compartilhando contigo. Não como um protesto à minha
conversa de hoje com Alegría, mas para mostrar que é muito
difícil para o personagem encaixar tal capítulo em seu sonho.


Eu admito que Alegría tem razão, inclusive posso aceitar o que
ele me disse, porque eu aceitei a morte de Dani, aceitei sua
escolha, e não o levo dentro de mim com rancores ou
recordações tristes. Foi um bonito presente que vivi e sonhei
com ele durante 20 anos, mas é difícil, hoje posso admitir, deixar
de identificar-se com este jogo e com estes papéis ilusórios que
assumimos dentro do jogo, de mãe e filhos.


Para mim, esse capítulo está encerrado, embora Dani
permaneça no meu coração. E o amor que sinto, e ainda falarei
com Alegria sobre o amor, carrego comigo. Para mim, sempre
permanecerá nas profundezas do meu ser. Quer seja ilusório ou
não, o amor nunca desaparecerá dentro de mim.

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