CLAUDIO FERRAZ - A volta do discurso anticorrupção
Banco Central do Brasil
O Globo/Nacional - Economia
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Clique aqui para abrir a imagem
Autor: CLAUDIO FERRAZ
Na eleição de 2018, o resultado da operação Lava-Jato
levou muitos eleitores a votarem contra os políticos
incumbentes, elegendo o presidente Bolsonaro e
gerando uma das maiores renovações legislativas da
História brasileira. Com a entrada de Sérgio Moro na
corrida presidencial, e a participação de Luiz Inácio Lula
da Silva, o combate à corrupção voltará novamente ao
centro do debate eleitoral. Infelizmente isso será
contraproducente. Não digo isso por achar que o
combate à corrupção é pouco importante ou por achar
que o PT e o Lula não tiveram nenhuma culpa no
escândalo do mensalão.
Mas acho que será um erro focar o debate eleitoral em
corrupção. Depois de muitos anos estudando o tema,
tenho certeza de que, apesar de importante, a
corrupção não é o grande determinante do atraso
econômico e social brasileiro. É claro que muitos dos
países mais pobres do mundo são também os mais
corruptos, segundo o Índice de Percepção da Corrupção
da Transparência Internacional. Essa relação também
existe se olharmos para a pesquisa do Banco Mundial
de Empresas onde os países mais pobres têm uma
maior proporção de firmas que reportam pagamentos de
propinas. Mas isso não significa que uma redução da
corrupção nesses países fará com que eles comecem a
crescer de formas sustentável imediatamente. As
instituições que causavam a corrupção continuarão lá e
seguirão sendo uma barreira ao crescimento.
Nesse sentido, concordo plenamente com os
economistas Daron Acemoglu e James Robinson
quando eles afirmam que a corrupção é o sintoma, e
não a doença. E para curar o paciente no longo prazo
temos que tratar da doença. Políticas anticorrupção que
não mexam no resto das instituições não têm nenhuma
chance de colocar o Brasil em uma trajetória de
desenvolvimento econômico. Uma coisa que ficou clara
no atual governo é que a incompetência administrativa
pode vir a ser muito pior do que muito desvio de
recursos.
Mas a corrupção não é ruim para o país? Claro que sim.
Quando políticos e burocratas se enriquecem de forma
ilícita, perdemos a confiança na democracia, no sistema
jurídico e no funcionamento do Estado. Os recursos que
vão para o bolso dos agentes corruptos faltam nos bens
e serviços públicos. Isso tem efeitos diretos sobre
nutrição infantil, mortalidade e aprendizagem das
crianças nas escolas. E quando contratos do governo
ou crédito de bancos públicos são distribuídos com base
em relações políticas e subornos, - terminamos com
obras mais caras e má alocação dos recursos da
economia.
Apesar de todas essas consequências negativas,
imaginar que todos os males do Brasil se devem à
corrupção é uma ilusão. O desvio de recursos para a
educação nos municípios faz com que muitos alunos
não tenham merenda escolar, nem uma biblioteca,
como eu mesmo já mostrei em minha pesquisa. Mas
imaginar que esse é o principal problema na qualidade
da educação brasileira é equivocado. Muitos dos
empréstimos de bancos públicos podem ser dados a
empresas que pagam propinas, mas não é óbvio que