Matemática, nova vítima da guerra cultural
Banco Central do Brasil
O Estado de S. Paulo/Nacional - Internacional
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Os Estados Unidos têm problema com matemática. Os
estudantes do país registram más pontuações em
exames internacionais de matemática há décadas. Em
2018, adolescentes americanos de 15 anos ficaram em
- º lugar no ranking da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o
clube dos países mais ricos. Adultos americanos
ficaram na quarta última colocação no ranking de
aptidões numéricas, quando comparados com adultos
de outros países ricos. Até 30% dos adultos americanos
se dizem confortáveis somente com a matemática
simples: aritmética básica, contagem, ordenação e
tarefas similares.
Empregadores americanos estão desesperados atrás
de habilidades em ciência, tecnologia, engenharia e
matemática: engenheiros nucleares, desenvolvedores
de software e operadores de maquinário estão em falta.
E, ainda que as notas em matemática dos estudantes já
estejam baixas demais, elas poderão piorar. Na
Avaliação Nacional do Progresso Educacional (Naep),
um exame nacional, as notas dos estudantes de 13
anos caíram 5 pontos em 2020, em comparação ao que
seus colegas registraram em 2012. A conta atual não
fecha. Mas professores e acadêmicos são incapazes de
concordar a respeito de alguma maneira de mudar essa
situação.
Os americanos têm problemas com a matemática há
mais de um século, afirma Alan Schoenfeld, da
Universidade da Califórnia, Berkeley. Em 1890, o ensino
médio era um luxo das elites: menos de 7% dos
adolescentes de 14 anos estavam matriculados em
escolas; e eles recebiam educação rígida em
matemática. No início da 2. º Guerra, tempo em que
recrutas do Exército tinham de aprender a matemática
necessária para a burocracia e a artilharia, quase três
quartos dos adolescentes com idades entre 14 e 17
anos frequentavam escolas de ensino médio.
ESTRATÉGICA. A Guerra Fria desencadeou um
segundo frenesi de matemática estratégica nos anos 50.
Um novo currículo em matemática, com foco em
compreensão conceitual no lugar de memorização
mecânica, foi desenvolvido após o lançamento do
satélite Sputnikpela União Soviética. Posteriormente,
esse novo currículo foi rejeitado, em um movimento de
retorno ao ensino básico, nos anos 70.
O ensino de matemática voltou a causar preocupação
quando os EUA começaram a temer a possibilidade de
serem superados pelo Japão. Em 1981, o
Departamento de Educação nomeou uma comissão
para avaliar o currículo, que produziu um relatório
chamado 'Um país em risco'.
'Se uma potência estrangeira hostil tivesse tentado
impor aos EUA o medíocre desempenho educacional
existente', afirmou o relatório, 'poderíamos muito bem
ter considerado isso um ato de guerra'.
Desde os anos 90, porém, a matemática entrou na
política. Conservadores normalmente fazem campanhas
pela matemática clássica: um foco em algoritmos (uma
série de regras a ser seguidas), memorizações (de
tabuadas e processos algorítmicos) e aulas ministradas
por professores. Estudantes têm foco no básico,