Clipping Banco Central (2021-11-13)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Isto é/Nacional - Editorial
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

regressa, triunfalmente, metendo o pé direito no tapete
vermelho do Planalto que o leva ao pináculo do poder
central dessa República das bananas. Digno de nota!
Seria ele o Ben-Hur do Parlamento, numa reentrada
épica, montado na sua biga de cavalos para vingar
injustiças pretéritas? Com um plantel de realizações
ilícitas digno de mafiosos de alto calibre, Valdemar
firmou o enlace matrimonial, dando as mãos a um
entusiasmado mandatário, que fez dele a “noiva
escolhida” para uma jornada de campanhas eleitorais e
acertos visando a prosperidade de ambos. Serão felizes
para sempre? Vai saber. Foi o dito capitão Bolsonaro
quem primeiro falou em escolher “a namorada mais
bonita” para o casamento. Quem quiser pode criticar, a
boca pequena, o gosto duvidoso nesse sentido, mas,
como manda a boa etiqueta, é melhor ninguém meter a
colher no relacionamento dos dois. Lancemos o foco,
agora, sobre o “noivo” e suas preferências. Dá para
acreditar? O Bolsonaro de outros tempos, quando ainda
trovejava indignação contra malfeitos para convencer a
turba de que era o candidato mais adequado a ocupar a
Presidência, tratava o Valdemar como “corrupto” e
“condenado”. O filho número três do clã, seu preferido e
malcriado Carlos Bolsonaro, não teve papas na língua
para tratar (no passado, é claro!) o contagioso Valdemar
pelo termo que lhe consagrou: “ladrão”. Relatava em
suas redes sociais as propinas supostamente
angariadas pelo antes desafeto em contratos fraudados
na usina de Furnas. Depois, quando papai Messias
resolveu estreitar a relação, trazendo o antigo opositor
para o altar, subitamente Carluxo surrupiou o post de
acusações, viu-se na necessidade de apagar as
“injúrias” com as quais tratava esse ainda aventureiro do
PL. É assim que caminha a velha e carcomida política,
coroando os arrivistas de sempre. Bolsonaro, camuflado
de mensaleiro por circunstância do matrimônio — mas
também por força da ambição desmedida que o levou a
arquitetar um desavergonhado orçamento secreto —,
tinha ânsia de realizar o toma lá, dá cá para conquistar
o objetivo maior da reeleição. Não hesitou um segundo
sequer em furar o teto fiscal, calotear credores e pegar
a grana pesada da ordem de mais de R$ 90 bilhões
para gastar à vontade. Mancomunou-se com os fiéis do
baixo clero, de Arthur Lira a Roberto Jefferson, chamou
tudo que há de pior para sentar-se ao seu lado.


Valdemar veio para assenhorar a lambança. Ao firmar o
acordo pré-nupcial, decerto os dois amarraram uma
bem detalhada divisão de bens. Como manda o figurino,
antes mesmo de consumado o enlace. Teve espaço até
para um ménage à trois, trazendo para a roda — ou
para a alcova, talvez termo mais apropriado — o antes
dileto do capitão, agora ministro, Ciro Nogueira. Os três
entabularam os entendimentos para uma espécie de
“trisal” rumo à vitória nas eleições. Dúvida imensa se
serão bem sucedidos. Mas como o papel tudo aceita,
deixa estar. Na cara de pau lambuzada de óleo de
peroba, o capitão Bolsonaro não consegue nem
ruborizar diante de tanta promiscuidade. Mergulha de
cabeça na esbórnia política que tanto questionou e
ainda tenta posar de bacana. Justificar o inexplicável.
Seu negacionismo e mitomania patológica não são
capazes de esconder o óbvio. Ele perdeu o senso de
ridículo. Resta a desfaçatez indolente. Preparando-se
para formalizar a mais abominável articulação de
sequestro de dinheiro público da história do País,
Bolsonaro planeja embolsar recursos extras para
emendas secretas e ao famigerado Fundo Eleitoral, que
já montaria em ao menos R$ 5 bilhões. As emendas
extras contariam na casa de R$ 16 bilhões. É dinheiro
do contribuinte, do aposentado, dos Estados. Verbas
que tinham, por preceito constitucional e direito privado
dos credores, outro destino e obrigações já contratadas,
que foram negligenciadas, relegadas, caloteadas sem a
menor cerimônia. O capitão quer se refestelar na farra
da campanha. Depois do casamento custoso, precisava
mesmo meter a mão grande em um montante de
bufunfa, via gambiarra de um orçamento secreto imoral,
consagrando a nova era da roubalheira aberta. Sim,
porque ela é desenhada e executada à luz do dia, para
quem quiser ver. Com um balcão de negócios montado
no Palácio e no Congresso, tem gerente do caixa,
interlocutores, ameaças com cobranças caras, aos
moldes da agiotagem salafrária, para cooptar o apoio de
parlamentares arredios e outros nem tanto. No meio
disso tudo, o acerto de Bolsonaro e Valdemar é
daqueles que entra para a história do crime organizado.
Liberou geral, caros brasileiros! A farra parece tomar
conta de vez em Brasília. Perca as esperanças com
essa turma, antes que tenha de perder as próprias
calças. A inflação descontrolada está aí. O desemprego
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