A geopolítica da energia
Banco Central do Brasil
O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Adriano Pires
O colapso no mercado de energia, com aumentos
surreais dos preços do petróleo e do gás natural, podera
á trazer importantes mudanças na geopolítica da
energia.
A origem desses aumentos e, mesmo, a falta de energia
em algumas regiões do mundo podem ser explicadas
pela pandemia em 2020, que promoveu uma redução
conjuntural da oferta de energia, e pela mudança
estrutural que é a agenda ambientalista, gerando uma
escassez de petróleo e de gás natural. Muitos afirmam
que estes seriam os principais motivos para um
racionamento de eletricidade na China e para a
explosão do preço do gás natural na Europa.
Esta agenda ambiental, ao hostilizar as chamadas
International Oil Companies (IOCs), fortalece as
National Oil Companies (NOCs), provocando mudanças
na geopolítica da energia. Os investimentos para
exploração de petróleo e gás das IOCs caíram para a
metade entre 2011? 2021, segundo o Financial Times.
Essa demonização tem levado a uma redução dos
investimentos das IOCs em petróleo e gás nos últimos
cinco anos, bem como ao êxodo dos investidores
nesses mercados. Tudo isso guiado por uma obsessão
com as mudanças climáticas. Este radicalismo
ambiental está afastando da mesa de negociação
players como a China, produtores relevantes como a
Rússia e a Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e as ICOs,
que foram as grandes empresas de energia do século
20.
Diante deste cenário, começa a se construir um novo
mapa da geopolítica da energia. Este novo mapa volta a
dar poder aos países grandes produtores e
exportadores de óleo e gás, como ocorreu na década de
70 como primeiro e o segundo choques do petróleo. É
or etorno do poder do cartel da Opep, já que esta nova
realidade trará cada vez menos oferta de óleo e gás e,
com isso, preços cada vez mais elevados e um aumento
da inflação.
No caso da Rússia, grande exportadora de gás natural,
o seu presidente se transforma numa espécie de czar
da Europa, na medida em que o gás russo representa
de 40% a 50% do consumo. Se o presidente Vladimir
Putin fechar as válvulas dos gasodutos que atendem a
Europa, a população morre de frio.
Diante deste quadro, não nos espantemos se voltarem a
surgir nos países da Opep novos ditadores ao estilo
Muamar Kadafi e Saddam Hussein.
Os desafios estão colocados. Senão conseguirmos uma
transição equilibrada para a energia verde que evite a
alta dos preços da energia, não vamos construir a
solução de que o mundo precisa. Ao contrário,
poderemos estar reforçando a criação de uma outra
geopolítica - além de uma impopularidade em relação
às propostas ambientalistas. Ou seja, perdemos todos.
No novo cenário que se desenha, cresce o poder de