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sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Renata Simões
A descoberta do autismo, em geral, gera curiosidade.
'Como assim você descobriu que era autista? Você
desconfiava?' No meu caso, envolveu terapia,
psiquiatra, não compreensão de tipos de humor,
algumas desilusões. Jáfingi entender o que estava
sendo dito, aprendi (algumas) horas que deveria rir,
busquei manuais que me dessem respostas sobre o que
parecia ser óbvio para todos, menos para mim. Ser
diagnosticada gerou alívio e a certeza de que hátipos de
sofrimento que poderiam ser minimizados ou evitados.
O aumento do número de diagnósticos de TEA, de dois
a quatro casos a cada 10 mil crianças em 1980, para
uma a cada 68 crianças em 20M, está ligado a alguns
fatores.
Talvez o principal seja a mudança nos critérios de
análise, em 2013, pelo DSMV, a bíblia psiquiátrica
norte-americana, que deve refletir no CID 11,
documento de Classificação Internacional das Doenças
da OMS que sai em 2022. Mães e pais que suspeitavam
das 'esquisitices' de seus filhos, se deparavam com
médicos sem repertório para isso, hoje encontram um
corpo clínico mais preparado.
Pesquisadores estudam o que favorece essa
constituição psíquica: do uso da tecnologia na primeira
infância a fatores ambientais são linhas desenvolvidas
pela ciência. 'Introvertendo', um podcast em que
autistas conversam, trouxe o tema do autismo na
infância sem diagnóstico e a sensação de que quanto
mais cedo se sabe, melhor as famílias reconhecem e
não subestimam certas dificuldades das crianças. Fui
dividir com Tiago Abreu,
um dos criadores do podcast, diagnosticado aos 19
anos, em 2015, minhas dúvidas. Ele me contou que a
discussão sobre autismo ganhou projeção no Brasil a
partir de 2013, com grupos de Facebook. O
entretenimento, aliás, fomentou a discussão: Atypical e
The Good Doctor são exemplos. Hoje, youtubers,
blogueiros e TikTokers, além de médicos, mães e pais,
abordam o assunto. Mais gente se reconhece e parte
em busca de um diagnóstico.
Além do suporte, o TEA exige esforço contínuo de
compreensão do que é sua visão como indivíduo, e o
que é filtrado pela lente da neuroatipicidade. Ao ouvir
Tiago ter seu diagnóstico aos 19 pensei, 'que novo', e
durante nossa conversa, entendi que foi tarde para ele,
assim como foi tarde para mim a descoberta aos 38
anos, assim como deve ter sido para o ator Antony
Hopkins, que só descobriu o seu na entrada da terceira
idade. Ainda que se fale de um único diagnóstico, os
modos de vida são diferentes, por isso, quanto mais
cedo o laudo, mais dificuldades podem ser realmente
evitadas, para o autista e também para aqueles que
vivem ao seu redor.
Quanto mais cedo for dado o laudo, mais dificuldades
podem ser realmente evitadas
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