Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

Existem toneladas de razões éticas e ambientais para não comer animais. Elas
vão das condições cruéis com que eles sobrevivem antes do abate até a
quantidade enorme de grãos que, se não fossem destinados a alimentar esses
bichos, poderiam acabar com a fome de populações inteiras. Mas, se a questão é
comer errado, não adianta eleger só o bife como réu – nem ovos, nem leite
integral, nem queijos amarelos. Segundo o IBGE, 84,5% dos brasileiros
exageram na gordura saturada. Mas pensa que é por causa do churrasco? Não, é
pelo excesso de bolachas recheadas, líderes isoladas do ranking de fontes dessa
substância na nossa alimentação. Elas são seguidas por salgadinhos
industrializados, pizza, doces e refrigerantes. A carne de boi está em 13º lugar na
lista.
Recentemente, pesquisadores americanos apontaram que uma substância
presente em grande quantidade na carne vermelha, a l-carnitina, pode
desencadear o entupimento das artérias. É que, quando ela é metabolizada por
um tipo de bactéria no intestino, uma enzima chamada TMAO é produzida e
liberada na corrente sanguínea. Vegetarianos avaliados tinham baixa quantidade
de bactérias que digerem carne no intestino e, portanto, menos TMAO. Os
médicos analisaram o sangue de 2.500 pessoas e concluíram que aqueles com
bastante TMAO circulando tinham mais placas de colesterol nas artérias.
Portanto, o problema não seria o nutriente da carne, mas as bactérias que se
alimentam dele e, consequentemente, dão origem à tal enzima. Quando os
voluntários tomavam um antibiótico, o nível de TMAO era drasticamente
reduzido – e, em tese, as chances de ter artérias entupidas também.
Os autores do estudo acreditam que essa pode ser mais uma explicação de por
que a carne vermelha está tão vinculada ao risco de doenças. Eles até declararam
que, se confirmada a relação dessa substância com os males cardiovasculares, a
indústria poderia criar um antibiótico ou um iogurte para acabar com essas
bactérias – e diminuir o risco de ataques cardíacos nos carnívoros inveterados.
Vem aí a pílula que libera o churrasco, então? As coisas não são tão simples.
O estudo apenas sugere uma relação de causa e efeito – como boa parte das
pesquisas sobre alimentação, aliás – e ainda precisa ser mais bem avaliado pela
classe médica. Além de inconclusivo, ele diz respeito não exatamente ao
consumo de carne, mas ao de altas doses de l-carnitina, porque os voluntários
tomaram cápsulas com esse nutriente concentrado.
Diante de tanta informação – às vezes desencontrada –, o que nos resta para
ter uma alimentação saudável?
A solução é mais simples do que parece. Na dúvida, escolha aquilo que a sua
avó chamava de “comida”.
No próximo capítulo.

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