fazenda e ter de comprar coisas como alface e leite”, conta Roberto. A família
desistiu da agricultura convencional e adotou a orgânica. O primeiro passo foi
montar a horta, depois mudar o sistema de cultivo do café e, por fim, passar para
a pecuária orgânica, com os bichos soltos. O processo devolveu todos os
nutrientes do solo, a limpeza dos cursos d’água e o equilíbrio do ecossistema.
Hoje, quase 30% da fazenda é coberta pela floresta. Muitas aves voltaram e
várias espécies vegetais agora nascem sozinhas. Atualmente, eles vivem da
venda de queijos, doces, iogurtes, manteiga, pães, bolos, farinhas, geleias, mel e
frutas e dos projetos de educação ambiental que organizam.
É o caso do café da manhã na fazenda, que acontece uma vez por mês.
Primeiro, você prova todas as maravilhas que eles produzem – o pão de abóbora
com geleia de limão-cravo é inesquecível. Depois, faz um passeio guiado com
palestra sobre agroecologia orgânica. Eles não vendem os produtos para
supermercados. “Nosso foco são as feiras, porque elas são mais do que um local
de venda – são uma forma de educar o consumidor”, explica Roberto. “Nem eu
consumo só orgânico, mas faço o que posso para não alimentar o sistema
convencional.” Hoje, estamos mais antenados com os produtos químicos que
podem estar na nossa comida. Principalmente depois que foram constatadas
adulterações de milhões de litros de leite em vários Estados, como Rio Grande
do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Para aumentar o volume da bebida e
manter a cor branca e a consistência, intermediadores adicionavam água não
tratada, formol, água oxigenada e ureia. O formol é cancerígeno e pode levar à
morte.
Não há tantas feiras orgânicas por aí porque só em 1990 é que as associações
de produtores começaram a se estruturar. Foi naquela época também que a
certificação para essa categoria passou a ser definida. Desde então, é cada vez
mais comum encontrar orgânicos nos supermercados também. A certificação
oficial para a categoria só apareceu em 2011 – ou seja, é um mercado que nasceu
agora e ainda tem muito que se desenvolver para virar uma alternativa acessível
a mais gente. “Os orgânicos nunca foram uma preocupação dos governos”, diz
Roberto. “Agora que os problemas alimentares estão crescendo em um ritmo
preocupante, as iniciativas surgem. Mas elas são reativas, e não proativas.”
No Brasil, existem 90 mil produtores orgânicos – 95% deles são pequenos e
médios, segundo o IBGE. As terras destinadas a esse tipo de cultivo somam
aproximadamente 1,5 milhão de hectares (no Brasil, o espaço destinado a
atividades agropecuárias passa de 300 milhões de hectares, de acordo com o