agricultores de Santa Fé do Sul, cidade com 30 mil habitantes no interior de São
Paulo, Pupin estava acostumado ao fogão à lenha, ao colchão de palha de milho
e à brisa mansa que sopra nas pequenas cidades. Energia elétrica, só conheceu
quando tinha 9 anos. Acontece que Pupin se casou com a argentina Maria
Alejandra Alcalá e foi morar em Campinas, a cidade grande mais próxima de
Santa Fé. Mas quando chegaram os dois filhos, que hoje têm 9 e 15 anos, o casal
decidiu dar a eles a mesma infância rural que tiveram e alugou uma chácara com
horta e pomar, em Jaguariúna.
Aí eles começaram a levar frutas e hortaliças sem agrotóxicos para os colegas
no trabalho em Campinas. A cada semana, mais gente ficava sabendo e se
interessava em comprar. Os agricultores da vizinhança também passaram a pedir
conselhos aos dois sobre como vender a produção. Foi quando caiu a ficha e eles
decidiram viver disso. Pupin, que dava aula em escolas, buscou a ajuda de
entidades orgânicas para desenvolver cursos para ensinar os pequenos produtores
a cultivar de forma sustentável. A esposa foi estudar gestão ambiental. Juntos,
montaram um grupo de agricultores e educadores ambientais chamado Família
Orgânica, que acaba de inaugurar uma sede própria em Piracaia, também em São
Paulo. “Nosso objetivo não é ter só um sítio produtor de alimentos, e, sim,
montar uma cidade orgânica que seja referência em educação e produção no
Brasil”, diz Pupin.
Hoje, 60 produtores fazem parte da Família, que mantém convênio com a
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para fazer pesquisas. “Organizamos cursos e
convênios com escolas, restaurantes e instituições para conscientizar o
consumidor, além de vender em feiras e eventos do setor.” Uma das maiores
apostas da Família Orgânica é resgatar alimentos que foram esquecidos no nosso
cardápio, como serralha, beldroega, caruru, capuchinha, taioba e azedinha, que
são hortaliças baratas, de fácil cultivo e ricas em vitaminas e antioxidantes.
Chefs badalados já começam a oferecer esses ingredientes diferentões para os
urbanos. Como são raros, eles são igualmente caros. Mas não significa que a
gastronomia de alto padrão tenha distorcido os conceitos de uma agricultura que,
por definição, prega a volta à simplicidade. Toda vez que algo desponta como
desejo de muitos ao alcance de poucos, a opinião pública se volta para o assunto
e começa a discutir sobre ele. E isso é bom para os alimentos que, até então,
estavam esquecidos. Afinal, eu e você podemos nos lembrar deles e procurá-los
em alguma feira ou no supermercado. Eu, por exemplo, sempre vejo se não